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"She faced him, waiting.
And Odysseus came,
debating inwardly what he should do:
embrace this beauty's knees in suplication?
Or stand apart, and, using honeyed speech,
inquire the way to town,
and beg some clothing?
In his swift reckoning,
he thought it best to trust in words to please her - and keep away:
he might anger the girl, touching her knees."
(Homer, The Odyssey, Book Six, The Princess at the River)



Estas palavras terão com certeza significados diferentes para diferentes pessoas. Estão como todas as coisas limitadas às circunstâncias e à perspectiva de cada um.
Também não sei o que concretamente terá o poeta grego Homero (séc. VIII a. C.) querido transmitir ao longo de toda a Odisséia, mas sei o que penso quando leio este trecho, de forma isolada. Sei o que me faz lembrar. A mim lembra-me daquele momento crucial em que se decidem as relações humanas. Daquela mistura entre vontade e hesitação, que aproxima ou afasta as pessoas, que ainda não se conhecem, ou já se conhecem mas não "dão" mais.
Eu gosto de conhecer, observar, ouvir, estar e conversar com pessoas. Como toda a gente tenho momentos, momentos em que fazem todo o sentido essas pessoas, outros que não. Mas muitas vezes sinto que, nos dias de hoje em que tudo corre demasiado rápido, o limite que nos separa é tão frágil, que a maior parte das pessoas é desconfiada ou tem medo (medo do outro, dos outros, do presente e especialemente do futuro). E assim, como o homem no texto, aquele momento de "vou não vou", "faço não faço" está cada vez mais dilatado, e a maior parte das vezes não dá em nada, por deixar-se passar. E passam os dias, e os anos, a correr. E nós a fugir atrás de qualquer coisa que não vemos mas que todos afirmam existir. E hoje, quase tudo se subentende e por essa razão, temos medo ou nem nos queremos dar ao trabalho de mostrar o nosso afecto ou admiração por alguém (se é que temos tempo para criá-lo), alguém que podemos conhecer há muito tempo ou conhecemos recentemente, não interessa, porque logo se imagina que essa exposição não é bem-recebida ou pode ser mal-interpretada, ou que criará dependência e maior exigência da outra parte. E muitas coisas se podem perder assim, muitas palavras, muitas imagens, muitos silêncios, muitos outros momentos. Não pode ser. Sou contra essa dormência e limitação demasiado evidentes hoje em dia, esse egoísmo e cobardia. Hoje penso assim....depois de ter tido tempo para pensar numa relação que começou num (com um) daqueles momentos, e ainda bem que assim foi.

Comentários

Me disse…
Percebo bem as tuas palavras...vem ao encontro da nossa conversa de ontem...lembras-te???
linda foto.
jinhos
L. Romudas disse…
Muito bem dona Ana! Este sim, é um texto revolucionário. Também sou contra essa dormência, mas por mais que queira não consigo evitá-la.

Bom texto e boa foto.

Beijinho
Anónimo disse…
Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Até mais.
Ana Dionísio disse…
Pois Luís, e eu também não. Por muito que use a palavra "contra", muitas vezes também vou na corrente.

bjos
Anónimo disse…
estou simplesmente maravilhada, nao só com as imagens...mas com poder que lhes transmites com os comentarios...este é sublime! nao sei ... quer dizer...acho que até imagino o que te levou a escreve-lo...um dia partilhamos ;-)
Anónimo disse…
Acho que a vida se assemelha a uma sala em que temos muitas portas. Essas portas são as nossas escolhas e cada vez que entramos por uma delas alteramos um pouco a nossa história no mundo.Cada uma dessas portas leva-nos a um outro lugar diferente que poderá ser fantástico mas também pode ser bem pior que a sala em que estamos. Em algumas portas nós temos a certeza que não queremos entrar, conseguimos espreitar pela fechadura e já vimos que não nos interessa. Depois há outras portas em que nós não temos maneira de saber o que está lá atrás, temos uma vontade enorme de as abrir, o nosso coração pede que o fáçamos,por vezes contrariando até a nossa razão. Nessas alturas temos de optar entre o conforto e a segurança daquela sala em que estamos ou o mundo desconhecido q esta atrás dessa porta.
Tenho a sensação que as pessoas vivem cada vez mais protegidas por muralhas que elas próprias constróiem, prontas para se defenderem ao primeiro sinal de ameaça de um inimigo que nem elas sabem bem quem é, nem se realmente o é. Acabamos muitas das vezes por escolher ficar na "sala" em que estamos, principalmente por medo.
Há tempos anotei algo dito por uma das personagens de um filme apaixonante chamado: Antes do Amanhecer.É a história de dois desconhecidos que se conhecem durante uma viagem e que decidem passar aquele dia juntos.A certa altura ela diz isto :"Sabes, acredito que se há algum Deus, não estaria em nenhum de nós,nem em mim nem em ti, mas no espacinho intermédio. Se houver magia neste mundo, terá de ser a tentativa de entender alguém, de partilhar algo. Sei que é quase impossivél consegui-lo mas o que importa isso na verdade? A resposta deverá estar na tentativa."

Que esta magia supere sempre qualquer medo.

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