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"A mente sã mente somente.
Louca a outra desmente."
Há anos atrás recebi de presente um separador de livros muito simples e normal com uns desenhos tipo banda desenhada, em que um homem conversa consigo próprio. As falas nos balões têm estas duas frases que aqui apresento, e que desde essa altura me fazem pensar no que será supostamente aquilo a que chamamos loucura versus razoabilidade ou normalidade. Estarão os conceitos trocados? Será o louco são e o são demente? Será o génio só fruto de loucura ou tem uma percepção acima do normal? Serão as pessoas ditas normais as que vivem no "tudo ao contrário" e sem certo sentido, sem um rumo certo, mas com regras e bóias de salvação? Talvez esta discussão não interesse nem sirva para muito pois cada um será aquilo que quiser. Já diz o provérbio que "de médico e de louco todos temos um pouco", e penso que não precisamos necessariamente de catalogar este e aquele para nos identificarmos e sabermos com o podemos contar.
Há um suposto "sem abrigo", a quem deram uma alcunha igual ao nome de um conhecido filósofo grego, que costumo ver muitas vezes e com quem até já falei. É uma figura que não passa despercebida a ninguém. Magro, alto, cabelos e barbas enormes e brancas. A estória dele, que qualquer dia se transformará em lenda, é que ele era um homem igual a tantos outros, que estudou, casou, trabalhou, até um dia...um dia em que a mulher o deixou e ele deixou também de acreditar no sentido que a sua vida supostamente tinha. Licenciado em Filosofia, com casa própria, começou a viver na rua por vontade própria também...e desde há anos entre outras coisas passa os dias a vaguear pelas ruas conversando com aquilo a que ele chama de entidades superiores, recebendo informações sobre o futuro e arquitectando com os anjos os desígnios de cada um. Mas há uma coisa diferente nesta pessoa. O olhar dele, que de louco não tem nada. E não sei até que ponto o será. Quem encarar a forma como ele vive de forma diferente, como algúem que não vagueia mas que passeia, alguém que não passa fome nem frio mas que sobrevive e faz aquilo que quer, alguém que inventa e teatraliza que é louco para poder viver como vive e saber que "louco é quem diz...eu não, eu sou feliz" (expressão na música "Balada do Louco" de Rita Lee e que se pode ouvir no link abaixo) talvez se pergunte se não será tanto ou mais sanu que outro sanu qualquer...

Comentários

José Luís disse…
Lembro-me de uma história que me contavam quando era pequeno. A história de um velho, um rapaz e um burro.
Ia o rapaz e o velho a andar ao lado do burro, já um pouco cansados, quando encontraram umas pessoas no caminho que se começaram a rir deles por irem a caminhar quando poderiam ir em cima do burro. Então o velho pegou no rapaz e colocou-o em cima do burro.
Mais a frente encontraram outro grupo que logo começou a comentar:
- Não tem vergonha !Em vez de deixar o pobre velhinho ir no burro !
Então lá saiu o rapaz de cima do burro dando lugar ao velho.
Andaram mais um bocado e não tardou muito tempo que não encontrassem alguém que lhe dissesse:
-Tal não é aquilo! O velho vai todo bem montado e o rapazinho é que tem de ir andando!
Então desta vez decidiram que iriam os dois montados no burro. E lá foram…Mas não por muito tempo. Mais a frente alguém gritou:
-Tenham dó do burro! O desgraçado já vai de língua de fora!
Então o velho e o rapaz desceram para o chão e puseram o burro às costas. Ao chegar à aldeia toda a gente os chamou de loucos e os ridicularizaram.
Esta história ilustra um pouco o esforço que algumas pessoas fazem para se manter naquilo que é suposto ser a normalidade. Por vezes esse esforço faz com que as pessoas se esqueçam daquilo que realmente são, se esqueçam de ser…
Me disse…
Para tornar a realidade suportavél, todos temos que cultivar em nós certas pequenas (ou talvez grandes!) loucuras.
jokas
Anónimo disse…
"Estarão os conceitos trocados? Será o louco são e o são demente? Será o génio só fruto de loucura ou tem uma percepção acima do normal?; Serão as pessoas ditas normais as que vivem no "tudo ao contrário" e sem certo sentido, sem um rumo certo, mas com regras e bóias de salvação?; E não sei até que ponto o será. Quem encarar a forma como ele vive de forma diferente, como algúem que não vagueia mas que passeia, alguém que não passa fome nem frio mas que sobrevive e faz aquilo que quer, alguém que inventa e teatraliza que é louco para poder viver como vive e saber que "louco é quem diz...eu não, eu sou feliz" (expressão na música "Balada do Louco" de Rita Lee e que se pode ouvir no link abaixo) talvez se pergunte se não será tanto ou mais sanu que outro sanu qualquer"...
Isto é tudo muito giro mas afinal... Quem te ofereceu o dito cujo separador de livros?
Beijo
Anónimo disse…
Por vezes a genialidade é tão confundida com loucura... e por vezes o ser-se verdadeiro é tão encarado como sinal de demência e pobreza de espírito... como se mentir e fingir fosse sinal de inteligência e força! Não te preocupes com o facto de que algumas pessoas te acharem "complicada"... às vezes eu também o sinto, mas sei que é porque és verdadeira. E por isso tão especial. :-))

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