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Quero falar de Pobreza. E no entanto sinto-me pobre em palavras para exprimir aquela que considero ser a causa da maior parte dos males da (e na) nossa civilização, na nossa sociedade.


Só pode ser. Que males? Violência, morte, doença, poluição, discriminação, corrupção, fim.


Baixos níveis de vida levam inevitavelmente a situações extremas de pobreza e doença, que por sua vez levam a violência, abuso, e em último (mas muito fácil) grau a morte. E pobreza, fome e doença levam a níveis de vida degradantes, à perda de equilíbrio, de conscienciabilidade e de percepção de sustentabilidade. Talvez seja um cliché mas trata-se de facto de um ciclo vicioso. E não vale a pena perder tempo em estudos para identificar culpados. Agora já está. Baixos níveis de instrução, aliados a fracos recursos económicos e sociais (factores de discriminação) e fraco apoio da sociedade em geral (que por norma tapa os olhos), normalmente geram cidadãos não integrados que em jeito de revolta e luta pela sobrevivência entram e atacam a esfera de direitos dos outros. Mas sinceramente tudo vai na complicação que é o ser humano. Existem no mundo recursos suficientes para que todos pudessem viver bem, pelo menos em termos de alimentação e distribuição de riqueza, e esta ideia não é 100% idílica ou romântica. Acredito veemente que é possível. Não acredito que um ser humano SÃO, que esteja bem alimentado, seja bem amado e consiga ser feliz pense sequer em ter de roubar, magoar, matar, abusar, ou ter outros comportamentos desviantes só por desporto. Isso seriam com certeza casos extremos e esporádicos.



Existem outros factores, também fortes, que causam focos de pobreza, sejam históricos, políticos, ou até mesmo climático-ambientais. Mas na essência ela não existiria se todos fosse dada a mesma possibilidade. Muito difícil de colocar em prática. E porquê? Não são os donativos, nem o voluntariado, nem os apoios infinitos, nem a boa acção para o vizinho, nem as conferências internacionais em prol da defesa dos direitos humanos, isso é um transporte para lá se chegar mas não um caminho. Este teria de passar pela mudança nas mentalidades e nos comportamentos, e já agora na educação das gerações vindouras a incutir-lhes ideais de responsabilidade e respeito. ("A Terra não é uma dádiva dos nossos pais, mas um empréstimo dos nossos filhos" um dito índio...)



Incomoda-me que só se fale nos pós e não se queira verdadeiramente encarar a raíz do problema, de só se falar em violência e nos seus efeitos, do excesso de desinformação nas tv e nos jornais, na destruição do ambiente e na forma de tentar tarde demais remediar algo que é impossível de ser reversível, em fome e em doença e epidemias que nascem de condições de vida gastas e desgastantes. Em disputa de territórios e ideais políticos e religiosos, e em rídiculas guerras de preços quando aproximadamente 50 000 pessoas morrem de fome, por dia. Por dia. E a maior parte diz-se serem mulheres e crianças.


Não quero também deixar de lembrar que a pobreza não é só falta de rendimentos e condições de vida, é também a falta de espírito e de amor. Essencialmente por aí. Porque a saúde não é só não ter doença, é viver bem e ter oportunidade para dispôr de si próprio e usufruir do mundo, o nosso mundo, o meu e o teu.
... e ainda pergunto. Deu para perceber alguma coisa disto?!... ... ...

Comentários

Me disse…
Elá!!!Grande texto!
Infelizmente é um mal cada vez maior no nosso país e no mundo...
Ana Dionísio disse…
Hoje vi num sítio qualquer um provérbio que diz qualquer coisa como: o homem bem alimentado e satisfeito vira as suas atenções para o que não devia, dispersa-se, perde-se.

Será? Isso contradiz o que penso.
Esta bem. Vou tentar aprofundar isso.......

e se as duas perspectivas forem verdade? E se, o que determina a violência, o desequilibrio, o disturbio não tem nada a ver com a pobreza ou a privação? E se depende muito mais de outros factores? E quais factores?

Pano para mangas.

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