Entrei na catedral.
Gigantesca e fria.
Contraditória na distância a que nos coloca de algo que defende estar tão próximo de nós.
Entrei na catedral e eles já lá estavam.
A sua presença permanecia naquele lugar.
Numa contínua repetição de um acontecimento.
Dei três passos e fechei os olhos.
Deixei-me ficar assim por momentos.
E fiquei a senti-los e a ouvi-los chegar.
Vinham de roupa rasgada, pés descalços e raiva no olhar.
Os mais novos sorriam sem perceber o que se estava a passar.
Não sabiam que chegavam para não mais voltar.
E olhei para eles embora não os pudesse ver.
Olhei para as suas caras que na multidão não tinham rosto.
Eram muitos e vieram ainda mais.
Chegavam sem parar.
E ao mesmo tempo ouvi o casco de cavalos.
Ouvi alguém dando uma ordem numa língua que não entendi.
O acontecimento não fora ali mas noutro lugar.
Ali estava apenas a porta e a presença do que à raiva algo mais tarde veio dar lugar.
Não abri os olhos porque só assim os poderia ver.
A cada passo no chão de pedra, História.
E iam ficando. Presos a uma ordem e a um olhar.
E o acontecimento repete-se com outras caras, e outras ordens noutros lugares.Senti escravidão.
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