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Perspectiva


"Free fallin'...?" - Espanha - 2009
Precisa de pára-quedas?
Se o chão for o tecto, sim.
Se alterar a perspectiva habitual, sim.
Se sentir insegurança na viagem, sim.
Se tiver medo do impacto, mais que nunca.
Se tudo estiver ao contrário, como de facto está. Sim.

Nós somos seres inteligentes, embora em muitos aspectos doentes. Porque temos diversas limitações, porque não conseguimos utilizar todo o nosso potencial, porque muitas vezes gastamos energia em actos infrutíferos ou desnecessários, porque.... não somos perfeitos e ponto final, nem tão pouco somos normais. Muito pelo contrário. Creio que o normal é utópico. Isso não existe. Foi um conceito e uma imagem qualquer que se criou para que nos referenciemos, mas que pode também desviar-nos e até fazer com que nos desconcentremos. Eu não conheço ninguém normal e ninguém completamente feliz (o que é isso de ser feliz? Como se mede a felicidade?...), primeiro porque não sei o que isso é e em tudo o que consiste, depois porque se olhar bem para cada um que se atravesse à minha frente, olho-o nos olhos, observo a sua maneira de estar e de ser, e em pelo menos alguns momentos... vejo uma data de desejos insatisfeitos, de expectativas desfeitas, de sentimentos difusos, de sentir traição, de saber que não consegue fazer ou ser tudo o que efectivamente queria, de sentir que não se conseguem controlar tantos aspectos da vida, de nalguns momentos ter de se obrigar a suportar o dia-a-dia, de não entender todas as coisas... e se o entender mais confuso se sente. Um sentir-se perdido. Mais cedo ou mais tarde todos quebramos um pouco. Todos lá vão, todos lá estão. E talvez seja isso mesmo necessário para que o resto faça sentido, para que o resto tenha valor. E isso talvez justifique também o facto de termos de viver em sociedade. Precisamos uns dos outros para nos levantarmos uns aos outros. Vejo isso, para além da normalidade que cada um dos dias aparenta ter. Vejo também que é muito mais fácil criar hábitos e raízes para que pelo menos esse chão não nos fuja dos pés. E sei que todos arranjamos os nossos próprios pára-quedas. Qual é o teu?

Comentários

Ana Dionísio disse…
Eu tenho vários.... são os amigos e a família, é o amor, a música, os outros hobbies (leituras, cinema, desporto...), é também o trabalho, é dormir bem, e é o sol :):P... todos eles essenciais na minha vida. Quando algum deles não funciona, eu não funciono a 100%.
José Luís disse…
Olá Ana ! Concordo com as tuas palavras. Ao longo da vida criamos rotinas e hábitos que nos orientam nas alturas que estamos perdidos. É como que se tivessemos a necessidade de saber que pelo menos numa parte da nossa vida as coisas funcionam de uma forma conhecida e familiar. Acho que todos nós temos pára-quedas que nos ajudam a não cair ou que suavizam a queda minimizando o número de nódoas negras que dela resultam. Os meus pára-quedas são a família, os amigos, o trabalho, desenhar, cinema, desporto e aqueles pequenos momentos que nos fazem sentir vivos e nos aumentam o coração como: um pôr do sol,o cheiro das noites de Verão, uma noite estrelada, uma "barrigada" de rir,um jantar com as pessoas de quem gostamos, uma recordação, uma música... ou um lindo sorriso como é o teu:)
beijinhos
Ana Dionísio disse…
Muito obrigada Zé! ;)

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