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Afinal

Manhã cedo. Tão cedo quanto o desconhecimento que tenho do que é o Tempo afinal.
Do pouco que sei saber acerca do que o Tempo é, e para o que serve, ou quem o serve afinal.
Ser cedo ou tarde tanto faz para mim. Tarde ou cedo é igual.
Não tenho nada para fazer. Nem tenho para onde ir.
Não tenho com quem falar senão comigo próprio.
Caminho sozinho. E todos correm em meu redor.
Uns para trabalhar, outros para fingir que trabalham.
Alguns falam, outros bocejam.
Têm com certeza aquilo que a mim me falta...
Que inveja... têm aquela outra coisa... um futuro.
De mãos nos bolsos continuo sem rumo certo, por caminho nenhum.
Ontem à noite esteve frio. Esteve frio demais onde dormi.
Pobre diabo chamam-me assim. Meu Deus onde estás?
Vagueio. Vagabundo. Vagabundeio. Espero por esperar. Nada vai mesmo mudar.
Deixo passar. Continuo a existir nesta vaga de Tempo.
À procura de alguém para conversar... Afinal.

Comentários

TugaSemNome disse…
Olá Ana,

Foste tu que escreveste isto?
Acho que foi das coisas mais bem escritas que lí aqui...
Mostra um estado de espírito... muito bem descrito que me deixou a pensar.

Acho interessante porque cheguei à conclusão que quem vive este estado de espírito não gosta de o viver... e quem o não o vive gostava de o viver... Não é?

Já tive momentos, quando era mais novo... nomeadamente nas férias grandes de me sentir assim. Uma semana ou outra em que todos os amigos e primos saiam e não havia mesmo nada para fazer nem ir... ser manhã ou tarde era igual.

Ter tempo... ou não ligar ao tempo, "Afinal" já quase não me lembro do que é. Sentir-me assim?... Nem nas férias... tenho sempre que fazer... mesmo na mina, e com o tempo todo do mundo há sempres horas para isto ou aquilo... há sempre uma frase... "João acorda e vai buscar o pão..." ... "vem almoçar"... Para mim "Afinal" mais do que não ter tempo é detestar o facto de haver horas para isto e aquilo.

Agora...por exemplo... são horas de ir para a cama que amanhã tenho de acordar cedo.

Um beijinho.
José Luís disse…
Um beijinho grande amiga Ana :)
Ana Dionísio disse…
Olá a todos!

Sim estas palavras "soltas" são minhas e surgiram porque um dia de manhã cedo, parada no semáforo, dei comigo a observar um homem, que caminhava por ali calmamente mas uma expressão meio perdida e triste, enquanto que todos os outros pareciam correr para os respectivos empregos. Era um pobre diabo como lhe chamei, uma daquelas pessoas a quem costumam chamar sem-abrigo... quiz colocar-me na sua pele, tentar perceber o que sentiria e sobre o que pensaria. Saíram estas palavras, que não passam de uma mera hipótese do que pode efectivamente ser a realidade.

bjinhos

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