Terminei a leitura deste que foi o 1.º romance (data de 1991) escrito pelo compositor, músico, dramaturgo e escritor brasileiro Chico Buarque há relativamente pouco tempo. Tenho andado a tentar arranjar palavras para descrever o que achei deste livro e da estória, mas não consegui encontra-las porque agora sim me apercebi que o livro não contém popriamente uma estória da qual se possa falar (!), divagar ou simplesmente comentar. Engraçado por vezes queremos tanto falar de algo e parecemos não conseguir encontrar as palavras para fazê-lo... talvez aí devêssemos aceitar que não há nada para ser falado! Mas eu sou teimosa na 5.ª quinta casa e como tal não descansei enquanto não arranjei umas quantas palavritas sobre o assunto.
Acabei de ler a última frase no livro... e... e... e?!?!! e o quê?!.... pois foi assim que fiquei... como que à toa, porque não encontrei sentido no que li. E que zanga que isto me dá! Porque não gosto de sentir que perdi tempo a fazer algo que não me ensinou ou acrescentou qualquer coisa!!... Tenho portanto andado às turras com este livro. Tem sido um autêntico estorvo na minha cabeça! Mas isto não fica assim.... e portanto aqui vai a minha interpretação do que li:
O livro está escrito na primeira pessoa. Esta personagem, um homem não muito jovem mas também não é velho, desempregado, desorientado, sozinho, alienado, assombrado, atormentado, com raros momentos de reflexão lúcida, perdido algures entre o sonho e o real, entre os seus pensamentos e os acontecimentos, portanto um ser que vive intensamente a solidão, sente-se como um estorvo para a sua abastada e desestruturada família, vive entre o não ter nada que comer e as festas sumptuosas e luxuriantes na casa da irmã, tenta regressar às suas origens à casa da família no campo mas aí nada encontra senão o inesperado do abandono e da criminalidade. Este homem anda perdido em si. Não tem objectivos e arrasta-se entre um acontecimento e outro. O que somos nós sem o amor à, e, da família, amigos, companheiro/a, trabalho, objectivos? Somos nada, mas uns nadas que andam por aí a roubar ar aos outros que vivem de verdade. Creio que este homem se sentia assim. Um qualquer mais consciente ter-se-ia apercebido do sem-sentido da sua vida e teria tomado uma decisão. Mas este homem não.
Uma frase que ficou:
"Vejo a multidão fechando todos os meus caminhos, mas a realidade é que sou eu o incômodo no caminho da multidão."
Outra coisa que valeu a pena.... o ler a escrita brasileira, acho divertidos termos como o orelhão para a cabine telefónica, a chácara para a propriedade rural (casa de campo), o ônibus para o autocarro... e outras que aqui irei acrescentando à medida que me vá delas lembrando...
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