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Anne Frank huis

(do Livro - A Story for today - Anne Frank - Anne Frank House)

Não foi há muito tempo que, em visita a Amesterdão, fiquei a conhecer a casa/museu de Anne Frank (huis = casa). Foi naquela mesma casa, naquelas estreitas divisões que Anne Frank e a sua família e amigos estiveram escondidos, à espera que a Guerra terminasse ou que alguém subitamente fizesse luz na cabeça e no coração daqueles que perseguiam e matavam judeus.... apenas porque eram judeus.

A história da II Grande Guerra e a forma como começou sempre me inquietaram o espírito. Continua a assustar-me porque revelam a fragilidade e crueldade humanas e suas inseguranças, que de um momento para o outro pode voltar a fazer coisa semelhante, basta que um povo se sinta peremptoriamente ameaçado. Não entendia (e parte de mim continua a não entender mesmo após ter conhecimento dos factos históricos e conjunturais que culminaram no Holocausto e no genocídio de milhões e milhões de pessoas) como é possível alguém como Hitler ser eleito democraticamente, ser aceite e venerado, ninguém o conseguir deter a implementar uma política fanática anti-semita e facilmente conseguir incutir um ódio nos alemães e raça ariana relativamente aos judeus (ou todos os que étnica, cultural e religiosamente fossem diferentes!) capaz de os fazer perseguir e assassinar famílias inteiras e não sentir um pingo de remorso. Muito pelo contrário, eles faziam-no com o maior orgulho porque de alguma forma sentiam que estavam a salvaguardar o que é seu,  num acto de patriotismo cego e completamente radical.

Na casa museu sente-se algo. Eu senti. É claro que foi arranjada de forma a que possa ser visitada, e a disposição das coisas não é necessariamente igual ao que era quando servia de abrigo à família Frank, e entretanto também já por lá passaram milhares de pessoas. O que nos toca é deixar-mo-nos sentir, através dos relatos ditos e escritos, o que sentia alguém (e Anne Frank é apenas um veículo que nos permite imaginar como se sentiria qualquer criança e respectiva família judaica naquela altura na Europa) que de um momento para o outro passa a ser um alvo a abater, perde o direito à vida (que é um direito universal), perde o direito a ter uma vida normal, a poder trabalhar, estudar, conviver, passear... a sonhar... Como é que isso é possível? Foi. E é. Ou é, e foi...

A meu ver Anne Frank era uma criança/jovem adorável. Inteligente, espontânea, genuína, madura, sonhadora e sensível. É isto que percebo dela através da sua escrita, dos seus raciocínios e da sua imagem. E é através das suas palavras e da sua expressividade que continua a espalhar-se no mundo a mensagem mais importante que nos deve ficar da História do Holocausto: todas as pessoas têm o dever de se respeitarem entre si. A violência é o caminho da destruição e por aí não chegaremos mais longe do que a um vazio redutor e dizimador da própria Humanidade, de nós mesmos.

Factos históricos e contextuais que considero mais relevantes:

1914-1918 - O pai de Anne Frank e o seu tio Robert lutaram na I Grande Guerra, no lado alemão. A avó foi enfermeira voluntária num hospitar militar alemão. (Não deixa de ser irónico saber que uma familia que lutou por um país pôde vir a ser perseguida e morta por esse mesmo país...). A Guerra termina com a derrota da Alemanha. Pelo Tratado de Versalhes a Alemanha é obrigada a pagar pesadas indemnizações aos outros países. Milhões de pessoas ficam desempregadas. Vive-se num ambiente de crise, pobreza e medo. Muitos alemães sentem-se amargurados e querem vingança.;
1929 - 12 de Junho - Nasce Anne Frank, na Alemanha. Família de judeus liberais; Vive-se uma severa crise económica na Alemanha;
1932 - Por causa da crise e das dificuldades em que vivem, muitos alemães sentem-se atraídos pelas ideias extremistas dos partidos radicais. O NSDAP - partido nacional-socialista dos trabalhadores alemães, é o partido de Hitler e promete a solução para todos os problemas dos alemães. Os seus cartazes diziam: "Hitler - a nossa última esperança!". Neste ano o NSDAP torna-se o maior partido político no parlamento, com 37% dos votos nas eleições.;
1933 - 30 de Janeiro - Adolf Hitler torna-se Chanceler da Alemanha. Começam a ser aprovadas as primeiras leis anti-semitas. O pai de Anne Frank, Otto Frank, teme o pior, decide deixar a Alemanha e emigra com a família para Amesterdão, nos Países Baixos (Holanda).
A 23 de Março o Parlamento aprova que Hitler governe sem necessidade dos representantes da população. Está então implementada a ditadura, a perseguição aos judeus (e saque ao seu ouro e reservas) e demais opositores políticos.;
1934 - 1935 - Recuperação económica da Alemanha. O desemprego decresce. Retornam o "sossego e a ordem". A prosperidade aumenta. Constroem-se auto-estradas, edifícios do Estado e obras públicas. Assiste-se à criação de uma indústria de armamento e um grande exército. Há, pelas razões apresentadas, um grande entusiasmo por Hitler e pelo seu partido. Hitler tem como objectivos principais: a criação de um povo alemão superior (a "Raça Ariana Pura") e a criação de um Grande Império Alemão. Para isso é preciso conquistar novos territórios e judeus, ciganos, homossexuais, Testemunhas de Jeová e deficientes são vistos como ameaças à Raça Pura. Os judeus tentam fugir para outros países mas são cada vez mais os que fecham as fronteiras. Durante os anos que se seguem intensifica-se a perseguição, a humilhação, e discriminação a todos os não-arianos ou contra-regime;
1939 - Setembro - Começa a II Guerra Mundial. A 23 de Agosto a Alemanha assina um Pacto de Não-Agressão com a União Soviética. A 1 de Setembro invade a Polónia.;
1940 - 10 de Maio - O exército alemão invade também a Holanda, Bélgica, e França (embora os nazis vejam estes povos como "irmãos").;
1941 - completa-se o registo e isolamento dos judeus, na Alemanha e nas áreas ocupadas. A intenção é matar os 11 milhões de judeus europeus.;
1942 - começam as deportações para os campos de concentração e extermínio, a maioria situados na Polónia. A 6 de Julho a família Frank entra na clandestinidade. Passam a viver no Anexo Secreto, sito no prédio da empresa de Frank e sócios, em Amesterdão. Deixam de ter contacto com o mundo exterior. Permanecem no esconderijo cerca de 2 anos. Os colaboradores de maior confiança levam-lhes comida, roupa e livros. Vive-se sob grande tensão, ansiedade e medo.;
1944 - 1 de Agosto - Anne Frank escreve pela última vez no seu diário. A 4 de Agosto a família é capturada e deportada. Até hoje não se sabe quem os denunciou... Vão para o campo de Westerbork e a 3 de Setembro partem com destino a Auschwitz. Em Outubro Anne e a irmã Margot são levadas para Bergen-Belsen.;
1945 - Março - Margot (irmã de Anne) e Anne, doentes de tifo, morrem, com poucos dias de diferença uma da outra. A mãe delas (Edith Frank) entretanto tinha já morrido em Janeiro mas elas nunca souberam pois estavam separadas. O pai sobrevive. No final de 1945 é libertado pelos russos, em Auschwitz. Ele não sabe se a família ainda está viva ou não. Mais tarde fica a saber que tanto a mulher como as filhas estão mortas. 
Termina a II GG, com a vitória dos aliados. Mais uma vez a Alemanha perde a guerra.;

1947 - Junho - o "Diário de Anne Frank" é publicado pela primeira vez. (Actualmente está traduzido em 55 idiomas, e mais de 20 milhões de exemplares foram vendidos);
1948 - é aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos;
(...)
1960 - o Anexo Secreto é aberto ao público. Tem como missão a sensibilização acerca da discriminação, preconceito e violação dos direitos humanos.
(...)
1986 - ficou cientificamente comprovado que o diário é verdadeiro. Isto para os que afirmam que o Holocausto nunca existiu...

"A uma lei anti-semita seguia-se outra, e a nossa liberdade foi seriamente restringida. Os judeus são obrigados a usar uma estrela-de-David na roupa; os judeus são obrigados a entregar as suas bicicletas; os judeus não podem andar nos eléctricos; os judeus não podem andar de automóvel, mesmo em particulares; os judeus só podem fazer compras entre as 3 e as 5 horas da tarde; os judeus só podem ir a barbeiros judeus; os judeus não podem sair à rua entre as 8 horas da noite e as 6 horas da manhã..."

"A melhor coisa é poder escrever o que penso e sinto, caso contrário, iria sufocar-me completamente."

"Ontem, ao espreitar pela cortina, vi dois judeus. É uma sensação estranha, quase como se eu os traísse e estivesse aqui para espionar a sua infelicidade."
(Anne Frank)

Comentários

TugaSemNome disse…
Gostei de ler.
Muito bem escrito.
Só há um ponto aqui que me não tenho bem a certeza.

Quando os campos de concentração foram descobertos e foram mostrados ao povo alemão. o povo Alemão disse que não sabia / nem imaginavam que eram mortos e enterrados inicialmente, escravizados em campos de concentração ou mais tarde como não se conseguia dar vazão criaram as incineradoras.

“… como é possível alguém como Hitler ser eleito democraticamente, ser aceite e venerado, ninguém o conseguir deter a implementar uma política fanática anti-semita e facilmente conseguir incutir um ódio nos alemães e raça ariana relativamente aos judeus (ou todos os que étnica, cultural e religiosamente fossem diferentes!) capaz de os fazer perseguir e assassinar famílias inteiras e não sentir um pingo de remorso.”

Houve muita coisa escondida ao próprio povo alemão. Não estou a defender ninguém… atenção … mas acho que isso aconteceu. Aconteceu e acontece em menor escala hoje em dia…
Digo isto porque falei com uma Sra idosa alemã que me disse “num campo de concentração em Munique” – Dachau - que quando aquilo se soube ela própria foi ajudar… nem imaginava o horror. E acredito naquela pessoa… não tinha razão para mentir.

… Hoje em dia temos governos e empresas a fazerem coisas que nós (povo), mesmo nas nossas sociedades europeias, desconhecemos …

E será que nós europa temos o direito de viver como estamos a viver, havendo crianças em todo o mundo com fome e escravizadas? Será que somos assim tão bonzinhos?
Ana Dionísio disse…
Faz sentido que parte da população não tivesse realmente consciência do que efectivamente se estaria a passar, não porque fossem desinteressados mas porque interessava (!) ao regime essa falta de informação. No entanto creio que a maioria colaborou, activa ou passivamente, não interessa. E não interessa também se sabiam dos campos de concentração. A partir do momento em que "aceitam" a segregação social (os judeus tinham de usar a estrela de David no peito, os judeus não podiam frequentar os mesmos locais que as outras pessoas, as crianças judaicas não podiam brincar com as outras... a aprtir do momento em que se tolera (ou deixa fazer-se) isso, então não há desculpa para todo o resto.
Sabes acredito que, como em todos os sítios, há pessoas boas que de certeza não quiseram colaborar com o regime, ajudavam os perseguidos, e muitos morreram por causa disso. Acredito também na inicencia dos que não votaram em Hitler e dos que votaram enganados. Depois há também aqueles que por viverem em sitios mais isolados não tinham qq noção do que o seu país estava a fazer....mas lá está...."o desconhecimento não pode abonar a favor de ninguém..."....ou seja, não podes alegar que desconheces algo para utilizar isso como desculpa.

beijinhos!
TugaSemNome disse…
"A partir do momento em que "aceitam" a segregação social (os judeus tinham de usar a estrela de David no peito, os judeus não podiam frequentar os mesmos locais que as outras pessoas, as crianças judaicas não podiam brincar com as outras... a aprtir do momento em que se tolera (ou deixa fazer-se) isso, então não há desculpa para todo o resto."

Devia ter dito isso à velhota para ver a resposta. Acho que realmente tens razão...
Anónimo disse…
No meu ver compreendo em certa parte o nível de aceitação dado pelo povo... Que diriam se grande parte da população das nossas antigas colónias ocupassem economicamente o pais e fizessem o mesmo apenas ser proveitoso (economicamente) para eles próprios? Não acho que está correcto a forma como eles procederam, como é óbvio, mas compreendo o facto de população ter consentido todas essas medidas impostas aos judeus!
Ninguém gosta de ver a sua terra ocupada por estrangeiros! Muito menos quando estes controlam o nosso próprio destino... Acredito também que muita da parte "pior" tenha sido ocultada!

De qualquer forma, caso a Alemanha nos conquiste economicamente, espero que os Portugueses tenham a mesma força de vontade que os alemães tiveram naquela altura. Lutar pelo nosso pais e pela nossa identidade! Afinal, se formos retirar todos os aspectos negativos é apenas disso que se trata...

Cumprimentos...
José Luís disse…
Foi um periodo da história verdadeiramente horrendo em que a crueldade humana, alimentada pelo poder de uma ditadura de direita, manifestou-se de forma brutal, louca e verdadeiramente desumana.
A humanidade viveu periodos de grande escuridão ao longo da sua história mas quando penso nesta guerra é como se toda a humanidade tivesse estado em jogo,não o homem, mas a humanidade. Em alturas de crise aumenta o risco de ideologias como o nazismo ganharem força à custa dos povos desesperados e ansiosos por melhores condições de vida. É pois com tristeza que vejo nos dias de hoje pequenos grupos que ainda defendem estas ideologias e anseiam por levá-las ao poder. Por alguns paises da Europa surgem agora novamente partidos extremistas de direita e de esquerda (igualmente perigosos) que ganham cada vez mais apoios populares e isso é verdadeiramente preocupante...
Ana Dionísio disse…
"Anónimo"

são fortes as tuas palavras e se não forem lidas com cuidado e de mente aberta podem até vir a ser mal-interpretadas. Racionalmente entendo o que dizes pq até faz sentido q a evolução dos factos tenha levado o povo alemão a ser conscientemente conivente e até activo na defesa (sem olhar a meios) do seu país, mas acredito que violência e reactividade nunca são a melhor opção. Se o problema foi os judeus terem conseguido alcançar tanto poder então pq os deixaram fazer isso de antemão? Porque não foram pro-activos ao ponto de criar leis q impedissem a entrada de estrangeiros (pessoas e capitais...ah pois!!). Continuo a pensar q os judeus, os ciganos e todos os que eram diferentes e portanto "alvos a abater" foram (com ou sem razão) bodes expiatórios da sede enorme de vingança que a Alemanha sentiu (se é que um país, constiuído pela sua população, pode sentir). Ainda assim também acredito que muitos alemães, o normal cidadão não sabia a que ponto extremo estava a ser levada a segregação. Isso desculpa-os enquanto individuais mas nunca iliba o país, que, no fim de contas, é representado por cada cidadão que exiba nacionalidade alemã.
Anónimo disse…
Então espero que o meu comentário seja lido de mente aberta! Até porque é algo quase obrigatório nos dias de hoje...
De qualquer forma, critiquemos então o povo oprimido pelos alemães, que tentou fazer com o povo alemão o que mais tarde veio a fazer na sua terra "natal". A verdade é que o povo israelita (Judeu) sempre teve o apoio de amigos bastante poderosos... O que para uma Alemanha derrotada, pós guerra mundial, significa uma imposição de controle quer económico quer militar por parte dos vencedores dessa dita guerra. Ora os maiores aliados desses mesmos vencedores, dentro da Alemanha pós guerra, seria a comunidade de judeus do pais. Todas as mudanças feitas na economia Alemã de pós guerra que levou à morte de milhares de Alemães, foi imposta e fora do controle do próprio país e do seu povo! Compreendo o povo alemão... Não concordo com o ponto ao qual a situação chegou, mas os princípios por de trás desta "guerra" eu compreendo. De relembrar que após a segunda guerra mundial, os tais "amigos" por meio das nações unidas propuseram um estado judaico na Palestina, o qual foi aceite pelo povo judaico mas não foi aceite pelos povos árabes lá existentes... A diferença é que a Alemanha teve força na altura para não deixar que o povo judaico toma-se as rédeas do pais, enquanto que o povo palestiniano não possuía essa mesma força!
Mais tarde nas diversas guerras entre os judeus e os povos árabes, os judeus ocuparam bastante território, como "margem de segurança" e outro tanto como parte inclusiva do seu próprio território, expulsando os povos existente nesses territórios e matando quem se recusa-se a sair. A diferença é que os territórios ocupados e as populações mortas estão longe de vista e não à nossa porta... E por isso hoje são Israelitas, tratados como um povo que luta contra os terroristas e não os Israelitas um povo que ocupou um país estrangeiro à força, matando milhares de pessoas pelo caminho!

Cumprimentos...
Ana Dionísio disse…
Ena...o que "praqui" vai!!! Por isso é que eu gosto deste tema e já há tempo queria escrever algo sobre isso (Anne Frank foi um pretexto para fazê-lo e torná-lo mais palpável). Não é consensual e por isso é que gera tantas opiniões e entendimentos diferentes. Eu continuo a achar que o Holocausto foi algo de horrendo que veio manchar a História da humanidade, mas não nego que são igualmente horrendas as mortes relativas ao conflito israelo-árabe, o massacre de Timor, as atrocidades cometidas no Sudão, Síria, etc....e as que continuam e continuarão a existir no mundo porque existirão para sempre as lutas de território e sede de poder. Enquanto na cabeça dos homens existir um neurório sequer que lhes diga que têm de lutar e que a felicidade e a prosperidade dependem da quantidade de terras, petróleo, diamantes, ouro, água...então para sempre existirão disputas. Eu não defendo nenhums. Nem os judeus nem os alemães neste caso do Holocausto. Para mim foi algo que aconteceu e devia ajudar a humanidade a reflectir sobre isso, porque ao fim ao cabo, e ainda que infeliz, não deixa de ser uma oportunidade para evoluir. O problema é que, e ainda que vocês também o tenham feito (porque naturalmente temos tendência para fazer juizos de valor e apresentar raciocínios), não vale de nada defender uns e outros....se formos analisar a coisa de forma minuciosa e histórica então ambas as partes têm razão, porque as coisas são como são (passo o "lugar comum"). Não aconteceu para que se reviva mas sim para que se entenda, ultrapasse e fazermos tudo para que não volte a acontecer....

...

bjos a todos e obrigada
Anónimo disse…
Concluo dizendo que vai existir uma nova guerra em breve, uma grande guerra! Ou isso ou uma doença que dizime milhões! Tão pura e simplesmente porque somos demasiados... O mundo não pode conter tanta população! Cada vez a população rica tem menos filhos e a população pobre tem mais filhos...
É triste ver pessoas a morrer, mas é triste também ver um planeta a morrer lentamente por tanto excesso da humanidade!

Controverso, triste, horrendo... Necessário por vezes! Mais que não seja para o planeta e para a natureza...

Cumprimentos...
Ana Dionísio disse…
Tens toda a razão anónimo ;)

O equilíbrio que a natureza exige augura que algo de drástico tem de ocorrer para regularizar as coisas...
Ana Dionísio disse…
I - Acerca da história acerca do conflito israelo-árabe lembrei-me que esta questão suscita-me interesse já há muito tempo e já há muito tempo também escrevi isto, com base em todas as coisas que li acerca do assunto na altura. Eu queria era tentar perceber como é que tudo começou. E acho que percebi (o que não quer dizer que concorde!!). Aqui está a minha revisão bibliogáfica/reflexão/resumo sobre o assunto:

"O Povo de Israel ou “Aquele que luta ao lado de Deus” teve a sua origem em grupos nómadas que habitavam a Mesopotânia e que se fixaram na região do Levante por volta de 2000 a.C.. Entretanto foram escravizados pelo Egipto, e quando se livraram disso, formaram um único reino, no seu território original, com a unificação das suas 12 tribos iniciais. Posteriormente, no reinado de David (1000 a.C.) Israel conquistou a cidade de Jerusalém, transformando-a na sua capital. Era na altura considerado um reino próspero.
Mais tarde foi dividido em dois: a Norte o Reino de Israel (10 tribos) e a Sul o Reino de Judá (2 tribos), neste último com a capital Jerusalém. (As palavras judeu e judaísmo vêm daí)

(...) continua
Ana Dionísio disse…
II -

A destruição do Primeiro Templo Sagrado foi em 586 a.C. por Nabucodonosor (um imperador da Babilónia), e aí começou o ciclo de destruição e exílio do povo israelita.

Entretanto, cerca de 60 a.C. o reino entretanto recuperado e reconstruído de Israel, é conquistado pelos romanos. A prática da religião hebraica era reprimida. Foram atacados e profanados vários locais de culto. Houve rebelião dos judeus contra os romanos, mas estes destroem a cidade e mais uma vez o Templo Sagrado (ano 70), e ganham o território. Mudam-lhe o nome para Província Síria Palestina (derivado de “filisteus”, povo que habitava a faixa costeira entre o Egipto e Fenícia).
Surgiu entretanto, e como sabes, o Cristianismo.
Os judeus são repudiados.
Depois dos romanos, o território passou para os bizantinos, e depois para os muçulmanos (em 638 d.C.). E mais tarde veio a fazer parte do Império Turco-Otomano (século XVI a XX).

O povo israelita teve portanto de abandonar o seu território e emigraram (em exílio…) para várias partes do mundo. Ainda assim, sempre foram perseguidos e nunca se integraram totalmente em nenhuma comunidade, senão a deles próprios.
Foram perseguidos porque não tinham terra e ninguém estava disposto a partilhar território com eles, até porque eles que não se queriam integrar e queriam estabelecer uma nação, não tinham eram terra para isso. Penso que eram tidos como povo erróneo, desgraçado, ninguém gostava deles. Foi pelo deicídio (suposta culpa na morte de Jesus), a sua religião parecia constar de rituais pouco ortodoxos e eram acusados de heresia. Pergunto-me, como é que a religião, que devia ser algo superior e espiritual que unisse os povos no mundo, quando colocada nas mãos dos homens, pode transformar-se em algo tão oposto ao que deveria ser, em algo tão profano?
Houve perseguições e massacres na Alemanha, Inglaterra, França, Espanha, e até em Portugal em 1506, no grande massacre de Lisboa. Os judeus deslocam-se então para a Europa Oriental e para a América. Entretanto, com o fim da Idade Média e o Iluminismo, as perseguições diminuem.

No século XIX, começa a surgir um novo movimento nas comunidades judaicas da Europa – o Sionismo – (Sion - colina da antiga Jerusalém), que pregava a volta dos Judeus à Terra de Israel, de forma a dar continuidade à sua religião e cultura ancestrais. Para eles, as perseguições só acabariam quando conseguissem a sua autonomia nacional. Além disso, existe a crença entre os judeus da “terra prometida”…. Que por isso lhes é devida. (!)
(Segundo as profecias bíblicas, a segunda vinda de Cristo, o Messias, seria antecedida pelo retorno dos judeus à sua terra…. Penso hoje que talvez só o poder persuasivo de um Messias possa resolver o conflito…)
Começa a assistir-se à migração judaica (de várias partes do mundo) para a Palestina, e em 1844, conviviam (penso que na altura ainda calmamente) em Jerusalém judaicos, muçulmanos, cristãos, arménios, gregos e outros sob o domínio otomano.
Depois da I Guerra Mundial e com a queda do império Turco-Otomano (em 1917), a antiga província da Palestina passou para soberania britânica.


(...) continua
Ana Dionísio disse…
III -

Na II Guerra Mundial, a ascensão do Nazismo (cristãos…) provocou aquilo que se veio a denominar de Holocausto, em que foram exterminados cerca de 6 milhões de judeus, e o sentimento de urgência (e também de justiça) dos sobreviventes em recuperar a sua terra e voltar às suas origens foi ainda mais acentuada. Queriam de volta a sua pátria.
Com a migração massiva de judeus, e assentamento de colónias e enclaves, na Palestina, os árabes nacionalistas começam a sentir-se incomodados e a não aceitar a situação. Cresce a tensão entre judeus e árabes no território. A Grã-Bretanha perde o controlo da situação e entrega a administração da região à ONU.
Afinal a terra pertence a quem?
Aos que a fundaram e que entretanto a perderam, mas que a querem de volta? Aos que entretanto foram para lá viver e que a consideram por isso o seu lar? Aos americanos? A quem?
Porque é que tem de haver disputa, não poderia haver só partilha? Acho que o ser humano não é capaz disso. Por orgulho e ganância de ambas as partes, infelizmente.
No fundo é tudo tão simples… Tudo se resume a sentimentos de partilha e de posse. A fé, e a posições geopolíticas e a estratégias de poder. E a orgulho ferido. Talvez a territorialidade faça parte do instinto de sobrevivência… não sei.
Não só entre países e nações, pensa noutra escala, mesmo entre pessoas, aos mais variados níveis (relação, trabalho, família, comunidade…). A dimensão das guerras e dos combates podem ser muito diferentes mas no fundo tudo se resume àquilo. Reagimos uns contra os outros por mero orgulho. (não deixo de acreditar que por sentimento de honra também)

E ainda…. sobre o facto de Israel não querer levantar os enclaves e assentamentos na Cisjordânia e Faixa de Gaza… É que existem preciosos e únicos recursos aquíferos no subsolo daquelas regiões, e Israel sofre de escassez de água, de forma que para satisfazer as necessidades da população o Governo tem de controlar aquelas fontes de abastecimento, caso contrário não têm água suficiente para sobreviver.

Em 1947, em Assembleia Geral da ONU, decide-se que a Palestina vai ser dividida em dois Estados: judeu e árabe, que deveriam formar uma união económica. Mas a liga árabe não aceitou o plano de partilha, e têm o apoio do Egipto, Jordânia, Líbano, Síria e Iraque. Começa muito mais a sério a guerra e os atentados.
Começam os crimes, e os aliados….
Ainda assim, em 1948 é declarada a Independência do Estado de Israel (os judeus proclamam-no).
Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel conquista o Monte Sinai, Faixa de Gaza (onde estão muitos refugiados palestinianos), Cisjordânia, reunifica Jerusalém e passa a ter acesso ao Muro das Lamentações (local mais sagrado para os judeus), na parte oriental da cidade.


(...)continua
Ana Dionísio disse…
IV -

Em 1970 eclode uma guerra civil entre cristãos e muçulmanos no Líbano. Os palestinianos (que ainda não desistiram) aproveitam o caos e usam o território libanês para atacar Israel.

Depois então, em 1982, Israel invade o Líbano e cerca Beirute. O episódio que despoletou o terrorismo contra ocidentais, pois aquela invasão foi apoiada pelos EUA.

E qual uma das razões para os EUA apoiarem Israel? Não podemos esquecer que o peso da comunidade judaica na América é enorme. Os judeus são pessoas muito empreendedoras e trabalhadoras. Costumam gerar muita riqueza. A sua influência é por isso muito grande ao nível político e geoestratégico dos EUA, e em muitas outras nações poderosas do mundo.

Já houveram tentativas de conversação e preparação de acordos de paz com impulso e ajuda internacional, mas, há sempre quem não concorde. Ora os extremistas árabes (Hamas, Jihad Islâmica, Mártires) ora os radicais de extrema-direita israelitas, ora ambos. E muito dificilmente se encontra consenso. Ninguém quer ceder, ninguém “arreda pé”. E cada vez mais há conflitos internos em cada uma das partes. O poder bélico é muito superior no lado israelita… mas os outros também não têm medo nenhum de morrer em sucessivos atentados suicidas.
E existem 6 milhões de deslocados palestinos, que são por isso a maior população refugiada do mundo.
Será isto mesmo necessário?

Todos querem Jerusalém, a Cidade Santa. Cristãos, judeus, e muçulmanos.

Sabiam que Einstein, Freud e Marx eram judeus?

Ana

FIM
Anónimo disse…
Bom trabalho! Gostei!;).

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