Há poucas coisas que me despertam assim a atenção. Sou muito curiosa (mas também selectiva) acerca do que me rodeia, quero ver e tentar perceber as coisas, sonho com viagens em redor do mundo só para experimentar a forma como se desenrola a vida em países e culturas diferentes, gosto de observar pessoas e outros animais e adoro ler sobre tudo (e sobretudo!) e mais alguma coisa, mas normalmente sou eu que, consciente e racionalmente, defino as coisas a que dedico o meu tempo. Mas neste caso (e obviamente que não deixo de ser eu a definir porque algo na minha mente está apto a sentir-se atraído por determinadas coisas!!) foi o “objecto” que me chamou a si. Se isto não é o que chamam de atracção então não sei o que isso seja. Mesmo... E esta é uma daquelas em que nos sentimos a ser sugados para um outro plano existencial, numa saborosa e avassaladora obsessão, daquelas que não conseguimos desviar o olhar, não conseguimos disfarçar, não conseguimos largar.
É bom seguir estes chamamentos porque é através destas pequenas curiosidades que acabamos por descobrir coisas muito interessantes e bonitas.
É bom seguir estes chamamentos porque é através destas pequenas curiosidades que acabamos por descobrir coisas muito interessantes e bonitas.
No no my friends… não vos vou aborrecer com historinhas de atracção física e paixão carnal (sorry!), tão banais que são hoje em dia e por isso perderam todo e qualquer interesse. O “objecto” aqui mencionado trata-se de…. uma esplêndida fotografia!! (sim….peço desculpa pela desilusão que alguns possam ter sentido! Please move foward...).
Um aparte: Já repararam que as coisas hoje em dia se processam rápido demais? E que são demais? As coisas que se processam?
Por isso é que cada vez mais acho que falta verdade ao que se experiencia, ao que se sente. Cada vez mais apercebo-me que a quantidade de informação a que somos expostos, o que nos é pedido para absorver e sentir, é demasiado, é cansativo, e tal como uma droga induz-nos numa dormência, numa cada vez maior inconsciência das coisas como elas realmente são. As coisas assim anulam-se por si só, perdem valor. Muito não significa bom e melhor. Vejam o processo inerente ao vício da droga: induz a um consumo cada vez maior em busca de uma sensação de prazer que após as primeiras vezes deixa simplesmente de existir, para sempre. Isso acontece no momento crucial em que o prazer é substituído pela necessidade e vício. Assim vejo algumas coisas hoje em dia. A forma como a vida se desenrola está assim. A quantidade de coisas que nos é exigida e que exigimos de nós próprios deixa-nos sem tempo para realmente viver essas coisas. Pensamos que as vivemos, mas no fundo sabemos que não as sentimos mesmo.
Voltando à fotografia, fiquei completamente absorvida pela beleza que emana esta imagem. Senti-me permissiva e prazerosamente presa, senti também que precisava a todo custo saber de onde vinha, o que era, e o que representava.
Esta imagem faz parte do trabalho criativo de um artista canadense - Gregory Colbert: ASHES AND SNOW e trata-se de uma exposição fotográfica, filmes e um romance que viajam pelo mundo num museu itinerante criado para esse efeito: o Nomadic Museum. Já percorreu diversos países, tem até à data o maior n.º de espectadores/ visitantes e a cada país que visita altera a forma como a exposição é apresentada. Mesmo muito interessante não é?!
As fotos e filmagens foram recolhidas pelo artista nas suas muitas viagens por todo o mundo, e pretendem acima de tudo explorar “as sensibilidades poéticas partilhadas pelos seres humanos e pelos animais”, o laço que existe entre nós e os restantes animais, e de como a nossa convivência poderia ser mais harmoniosa. Mais apaziguadora. O artista defende que as imagens não foram sujeitas a qualquer tipo de alteração, colagem e afins. Se foram ou não, não é de todo o que me interessa. Interessa-me sim o magnetismo que emanam. A serenidade e a porta que parecem abrir para um determinado estado de espírito que eu gosto. Lindíssimas e inspiradoras…. Não tenho mais palavras para descrevê-las. E por que me atraem não me canso de olhá-las.
A exposição tem recebido as melhores críticas da imprensa internacional. A que mais se aproxima do que penso: Alan Riding, do New York Times, declarou em Veneza (na estreia da exposição, no ano 2002): “As fotografias em tons de terra são impressas em papel japonês de fabrico manual, no entanto, o poder das imagens não flui tanto da sua beleza formal como da maneira como envolvem o espectador no seu estado de alma. Não têm legendas a acompanhá-las, pois parece de somenos importância saber como e quando foram tiradas. As fotografias são, pura e simplesmente, janelas para um mundo onde o silêncio e a paciência governam o tempo".
Podem visitar o site oficial http://www.ashesandsnow.com/en/ e experienciar. Muito bom... Boa viagem!
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