Avançar para o conteúdo principal

O Escafandro e a Borboleta

"O Escafandro e a Borboleta" (Le Scaphandre et le Papillon) começou por ser um livro autobiográfico de um autor francês (Jean-Dominique Bauby) publicado em 1997, e 10 anos mais tarde acabou por vir a ser adaptado ao cinema por Julian Schnabel.
Ontem quando estava a fazer zaping (coisa muitíssimo rara na minha pessoa porque vejo muito pouca tv e quase sempre os mesmos 5 ou 6 canais... farto-me logo) estava mesmo a começar este filme. Por acaso já tinha o visto há uns 4 anos atrás e na altura, mesmo não gostando muito de filmes franceses e de achar este em particular um filme muito parado, houve qualquer coisa nesta história que me emocionou e marcou. Não cheguei a falar disso quando o vi por isso faço-o agora. Despertou em mim sentimentos um pouco antagónicos. O não gostar muito, por um lado, e o adorar, pelo outro. Já referi o que não gostei no filme. Passemos então aos pontos positivos: tem uma mensagem muito profunda acerca da vida e da morte. Profunda e quem sabe até polémica... mas importante porque nos faz reflectir acerca das coisas... O facto de estarmos vivos nem sempre significa que estejamos efectivamente a viver. E em alguns casos a morte pode ser o acontecimento mais feliz na vida de uma pessoa. Passo a explicar porquê, neste caso muito concreto.

A história:

Jean-Dominique Bauby, 43 anos, é um editor de uma revista de moda. Tem um ritmo de vida alucinante, mil  afazeres,  tem uma vida social muito activa e é daquelas pessoas que nunca param. Mas inesperadamente sofre um derrame cerebral e entra em coma. Vinte dias depois acorda. 
Bauby foi vítima do síndrome do encarceramento, acorda paralisado, sendo que a única parte do corpo que consegue mexer é o seu olho esquerdo.
Numa luta constante entre a raiva por estar assim e simultaneamente não se dar por vencido, aprendeu a comunicar piscando letras do alfabeto, formando palavras....e mais tarde o livro em que autobiograficamente descreve a sua situação, o que sente e como sente. Começa a aperceber-se de que o corpo e a mente vivem de diferentes maneiras, e uma coisa era certa: a doença não paralisou nem a sua imaginação nem a sua memória. O corpo está preso como que num pesado e incómodo escafandro, mas a mente e os pensamentos são libertos e leves como uma borboleta.
O choque do seu anterior ritmo de vida com o marasmo em que se vê mergulhado fazem-no dizer muitas vezes (com o piscar do olho) que a única coisa que quer é.... morrer.


Curiosamente não é uma história que nos faça chorar. Não é um filme lamechas nem um drama de cabeceira. A mensagem e a lição de vida, que o autor quis partilhar connosco, são tão claras e reais que não há espaço para floreados e lágrimas ocasionais... há isso sim (e bem mais interessante) uma nova perpecção sobre a fragilidade da vida, as potencialidades da mente, a resignação humana e por outro lado, levanta questões muito interessantes nas áreas da Bioética e do Direito. E, inevitavelmente, faz-nos pensar acerca da eutanásia, do direito à vida, da propriedade da vida e da dignidade humana.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Sabem aquela expressão... "tas a dar-me música...."... pois é de isso mesmo que se trata!

Mas neste caso... é música boa!!! ;) O que é que, melhor que a música, consegue dizer tanto sem falar?! ;) "Ti prepara" que hoje estou destemida no que toca à quantidade de sons que tenho ouvido e quero partilhar... :))) Tove Lo - Habits (Stay High) - Hippie Sabotage Remix Meghan Trainor - All About That Bass Sam Smith - I'm Not The Only One Milky Chance - Stolen Dance Vance Joy - 'Riptide' The Sript - Superheroes Maroon 5 - Animals Maroon 5 - Maps (Explicit) Coldplay - Midnight Coldplay - True Love Coldplay - Ghost Story Especial.... e lindíssima esta próxima... :) Coldplay - Always in my head Boots Of Spanish Leather (Bob Dylan) - The Lumineers E, sabendo que é daquelas passageiras, mas que agora não consigo evitar dançar quando a oiço.... Bailando!! Enrique Iglesias - Bailando (Español) ft. Descemer Bueno, Gente De Zona The Black Mamba & Aurea - Wonder Why

Leituras - "Equador"

de Miguel Sousa Tavares. 2003. Acho que, até à data, este deve ter sido o livro que li (ou absorvi...) mais rapidamente. Desde a primeira página até à última página prendeu-me e dele não me consigui libertar até terminar. Por variadas, e talvez algumas até inconscientes, razões. Porque estive recentemente no país sobre o qual a história recai - São Tomé e Príncipe. Porque consegui ligar cada detalhe descritivo aos sítios concretos por onde também passei. Porque percebi e senti a história. E por tudo o resto de um conjunto de pontas soltas e aparentes coincidências que aqui se ligaram. Mais não será preciso dizer para concluir que gostei bastante. "Quando, em Dezembro de 1905, Luís Bernardo é chamado por El-Rei D.Carlos a Vila Viçosa, não imaginava o que o futuro lhe reservava. Não sabia que teria de trocar a sua vida despreocupada na sociedade cosmopolita de Lisboa por uma missão tão patriótica quanto arriscada na distante ilha de S. Tomé. Não esperava que o cargo de

Mais vale tarde...

Já há 1 ano que não publico nada por aqui. Não que faltem as ideias nem as palavras, mas faltou o tempo e a concentração necessária para escrever como gosto de fazer. Fui mãe entretanto. Isso explica quase tudo. Quis mergulhar sem rede nesse mundo. E assim o fiz. E sim, não é cliché, afirmar que há um antes e um depois de termos filhos. Se por um lado, e do ponto de vista mais simplista e naturalista existimos para assegurar a espécie e portanto não compliquemos as coisas, por outro, é um acontecimento que nos abre não necessariamente a um novo mundo mas muda a nossa perspectiva do mundo tal como o conhecíamos ou concebíamos antes. E isso altera profundamente a nossa vida. De repente passamos a ter um ser que depende de nós para sobreviver. E nós queremos, visceralmente, fazer de tudo para que ele não apenas sobreviva como viva da melhor forma possível em todos os aspectos que consigamos controlar. A minha atenção virou-se completamente para ele. É isto que para mim vale a pena fa