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Cinza

O dia hoje amanheceu sem muita claridade. Acordou cinzento. Frio, e a chover. Este tempo convida e induz-nos a um outro tempo de que às vezes na vida vamos necessitando. Ao tempo do recolhimento, à introspecção e reflexão. Porque é assim que as coisas crescem e evoluem. É assim que se nasce e por vezes se renasce. Como o feto que precisa do abrigo do ventre materno para se manter e crescer, assim o nosso espírito e coração também precisam de ser por vezes resguardados e protegidos, para se curarem, se alimentarem e se recomporem.
Estes dias de cor cinza são frios e tristes, mas também são calmos. Parecem até manter no ar uma sensação tranquila de assentamento. Ou será de vazio? Essas sensações por vezes podem confundir-se. Prefiro pensar que são de calma. Como as cinzas após um intenso e crepitante fogo. Essas mesmas cinzas, que são no presente uma versão condensada do que se queimou e assim se transformou, não são apenas cinzas, elas continuam a ter os minerais necessários que a terra precisa para continuar a fazer nascer as mesmas coisas que crescem e se desenvolvem e um dia se transformarão novamente nas cinzas que perpetuam e asseguram que o ciclo da vida se cumpra.
O meu coração hoje está triste e chora como o dia. Mas de uma forma calma e tranquila, como o dia também. Preciso de me reencontrar porque algures no tempo me perdi. Sem dar por isso fui-me transformando em algo que tenho a consciência que não quero ser. Por essa razão também magoei e fiz sofrer. Mantenho o vislumbre de como era e como sei que consigo ser e é a esse ser que quero e hei-de voltar. Para estar em paz comigo e com o mundo. Para fazer bem as coisas que quero fazer, para viver a vida como ela merece ser vivida: a ser feliz e a fazer felizes o que amamos e que nos amam e nos acompanham. Que nos amam e acompanham de maneira contínua ou interrupta, isso não interessa, porque no final somos produto de tudo o que vivemos. E tudo acontecerá como quisermos e como tiver de acontecer.
Temos a mania e acho até que somos ensinados infelizmente a deixarmos de fazer as coisas que realmente gostávamos de fazer em prol de responsabilidades que nos dizem essas sim ser importantes na vida. Mas não são. O que importa mesmo na vida é fazermos sim todas as coisas que nos apeteçam e que gostemos, porque esse bem-estar e essa felicidade vão alastrar-se a todos os outros campos da nossa vida. E assim se resolve esse enigma. Não precisamos ter nem ser isto ou aquilo para sermos felizes. Precisamos isso sim de sermos felizes para depois então termos e sermos o que quisermos e darmos realmente valor a isso. Eu quero... quero e sempre quis fazer tanta coisa... talvez por isso me disperso. Mas continuo a sonhar e quem sabe agora seja altura de concretizar essas vontades e esses sonhos. Quero viajar, quero aprender, conhecer, quero ajudar, quero compreender, se conseguisse queria até experimentar outras profissões, viver noutro país por uns tempos quem sabe, ter objectivos. Não viver uma vida que no final de cada semana nos faz perguntar para que serve tudo isto, para que andamos todos a correr de um lado para o outro a gastar gasóleo, palavras, neurónios, recursos e afins. A chatear-mo-nos uns com os outros. A viver de forma vazia. Eu não quero isso, muito menos viver isso tendo consciência disso! Não quero isso para mim nem para ninguém. Quero encontrar o meu caminho, só isso.

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