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2 Days in Paris


O filme já não é recente (é de 2007) mas a estória não deixa de o ser. Marion (francesa) e Jack (norte-americano) são um jovem casal de namorados, com uma relação que já dura há 4 anos, e que já partilham vida e casa juntos em NY. No final de umas férias na Europa decidem passar 2 dias em Paris, a cidade natal de Marion. Mas estes dois dias acabaram por ser muuuuito longos para a relação de Marion e Jack.

Por um lado, Jack não estava à espera de descobrir ou aperceber-se que a sua namorada tinha tido um sem-fim de amantes, que continuam a fazer parte do seu círculo de amigos e que o ambiente neste círculo de amigos fosse tão... liberto, lascivo, demasiado sensual e sexual. Para Marion, habituada àquela forma de viver e de se relacionar com os outros, não havia qualquer problema na naturalidade que Jack tanto estranhava, e acima de tudo ela estava de consciência limpa porque não o traiu nem o estava a fazer na sua maneira de ver as coisas. Para ajudar à "festa" os pais de Marion eram velhos hippies, completamente loucos e tarados. E para culminar Jack começou a aperceber-se que Marion parecia louca e esquizofrénica, começava a gritar e a arranjar confusão nos mais variados sítios e situações com outras pessoas. Havia nisto tudo um pormenor muito importante: Jack não sabia francês e portanto ele construiu opiniões apenas com base no que via, no que lhe parecia que estavam a dizer e no que a cabeça dele lhe indicava ser o mais provável de estar a acontecer. Que muitas vezes pode estar a anos-luz da realidade!

Por sua vez, Jack é um hipocondríaco nato, e por isso muito chato e muito tendente a criar macaquinhos na cabeça sem confrontar directamente a sua namorada. A viagem resumia-se a muita discussão e desentendimento e a pouco passeio e namoro.

Jack chega à conclusão de que não conhece Marion.... (ainda muito bem sem saber se gosta disso ou não) e o interessante é que acaba por reconhecer que o problema tem sido dele grande parte do tempo porque ele é que não se deu a conhecer verdadeiramente ao longo do tempo, por medo e insegurança. É curioso como muitas vezes é tão mais fácil (e destrutivo também) apontarmos o dedo aos outros precisamente para os nossos maiores problemas. Não sei se é um mecanismo de defesa mas acontece.
Ora, com muitos mal-entendidos à mistura e alguma falta de comunicação, é óbvio que estes dois dias foram como uma prova (de esforço...ou mesmo de fogo!) para eles enquanto casal. Chegaram ao limite de se questionarem se realmente se conheciam um ao outro e mais importante.... se estavam dispostos a aceitarem-se ou não. Resistirá o amor a uma sova destas?

Não é preciso ir viajar ou estar num sítio diferente (embora essas sejam condições que o propiciem) para chegar-se a este ponto numa qualquer relação. Há momentos em que somos confrontados com a realidade do outro e a nossa também, e portanto com os choques que daí advêm. Quando se começa um relacionamento há um sem fim de coisas que não conhecemos acerca do outro (e acerca de nós próprios), há outro sem fim de coisas que pensamos conhecer correspondendo ou não à realidade (podem ser coisas grandes ou muito pequeninas, detalhes apenas) e depois há também um jogo de expectativas que passado o período inicial de encantamento nos faz ir direitinhos àquele sítio (no mapa) da relação em que somos confrontados com a verdade, a nossa (da relação e a de nós próprios). Não que a outra parte nos tenha ocultado algo mas verdade num sentido de retirarmos o véu dos contos de fadas e ideias pré-concebidas e olharmos para a outra pessoa realmente como ela é. Nesse momento temos duas hipóteses: aceitar ou não. Permanecer ou não. Acreditar ou não. É irónico mas a relação evolui após cada um destes momentos. E há muitos. E hão-de sempre haver momentos destes em qualquer relação de verdade, seja aqui seja na China, seja com quem e entre quem for.

Penso que o que torna uma relação interessante é precisamente isto. É constatarmos ao fim de algum tempo que é muito mais intenso e duradouro amarmos uma pessoa por aquilo que ela é (e não por aquilo que pensamos que ela seja) e por aquilo que ela nos faz ser de verdade. Só a verdade assegura a duração e a beleza de uma relação. Eu não gosto nem conseguiria ter uma relação vazia. Prefiro mil vezes estar sozinha até porque é algo de que gosto bastante e quem me conhece sabe bem disso. Gosto de descobrir o outro. Às vezes gosto do que descubro, outras vezes não gosto muito e catrapum! desilusão, o mundo fica naquele momento virado às avessas porque sou muito impulsiva e reajo muito no momento, mas depois apercebo-me que amo essa pessoa assim tal e qual como é e não o suportaria de fosse de outra forma, assim como não suportaria viver sem poder assistir às suas macaquices :D, sem poder fugir aos seus abraços infinitos, olhar para ele, sentir o seu cheiro e o seu toque, apreciar o seu sorriso lindo e especialmente não poder sentir a sua presença e energia, e partilharmos as coisas, sem ouvir as suas explicações sobre temas tão interessantes quanto complicados para mim! Etc Etc...

 É engraçado porque numa relação vamos muitas vezes também descobrindo coisas acerca de nós próprios. E tal como no outro, também há coisas que gosto e outras que não gosto em mim, e aí fico muitas vezes insegura, frustrada e triste... mas depois sinto que sou amada tal como sou e tudo fica em ordem. E faço planos para mudar ou pelo menos tentar mudar naquilo que acho que não estou a ser como gostaria de ser.
 O amor, neste caso entre um casal, é um livro que nos leva a apreender e a aprender parte da vida (essa é a biblioteca), uma relação é a leitura que vamos fazendo desse livro, como uma aprendizagem, ora apaixonados ora chateados, ora muito juntinhos ora mais afastados, com momentos bons e outros mais difíceis, mas no final de cada capítulo estamos juntos. E só isso assegura a continuação da (nossa) história.

(Já agora e quanto à diferença entre "estória" e "história" para que não me chateiem a cabeça com esse assunto...:D  Para mim estória é quando falamos de ficção. História é para quando falamos de acontecimentos passados efectivamente ocorridos, factos portanto! Há diferentes percepções relativamente a isto e esta é a minha! Va benne?!)

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