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Cancro - Células Dendítricas

Há uns dias vi uma reportagem na TV sobre um (relativamente) novo tipo de tratamento para o cancro. Os mais conhecidos e utilizados actualmente na medicina tradicional são, como se sabe, a quimioterapia e a radioterapia (através de substâncias químicas ou radiações ionizantes, respectivamente) que só por si já representam uma resposta capaz de lutar contra vários tipos de tumores malignos, com relativa taxa de sucesso mediante o estadio da doença e resposta do sistema imunitário do doente. O senão deste tipo de ataque (porque se trata efectivamente disso) à doença é a agressão que representa para o organismo em geral e não apenas para a doença em particular. Alegoricamente este tipo de tratamento funciona como uma bomba que se larga num território que se sabe ter sido invadido (estar doente) com o intuito de eliminar os invasores (células cancerígenas ou tumorais), sabendo de antemão que por todo o alcance da explosão se irão sentir efeitos, ou seja, destruir-se-ão as células más (tumorais), mas as boas também (do sistema imunitário). É o preço a pagar pela decisão de enfrentar a doença. Para uns resulta, para outros não. O que é certo é um elevado nível de debilitação do doente aquando e pós-tratamento. Como espectadora dessas situações muitas vezes me questiono se o tratamento é realmente eficiente no sentido em que, em última análise, mesmo nos casos de sucesso (regressão do cancro) condicionam o objectivo primordial de qualquer tipo de tratamento que é devolver ao doente a sua saúde.

O que a quimioterapia e a radioterapia fazem, no meu entender (e sem lhes retirar a importância que efectivamente têm na diminuição das taxas de morte por cancro) é fazer do organismo do doente um campo de batalha em que mesmo nos casos de vitória sobre a doença muitas vezes implicam o surgimento de co-patologias (agudas ou crónicas) que irão condicionar na mesma a vida e o dia-a-dia do doente. Permitem adiar a morte mas por outro lado retiram vida em vida, se é que me faço entender. Mas isto seria outra discussão ou dissertação sobre se vale a pena viver por viver ou viver com (a mínima) qualidade de vida. Acho que a medicina tradicional por vezes entra em contra-senso quando faz de tudo para salvar um doente sabendo de antemão que se ele sobreviver não tem qualquer tipo de autonomia ou usufruto da própria vida e pode até ser apenas um prolongar de sofrimento. Mas enfim.

Acerca da reportagem que vi, gostei principalmente do facto de saber que está maior o leque de escolhas na abordagem ao tratamento do cancro. Acho que estamos (Humanidade) no bom caminho. Neste caso, e comparativamente à estandardização dos tratamentos que referi acima, e ainda que em dita fase de investigação clínica e de experimentação, a imuno-hemoterapia celular com células dendítricas (Prémio Nobel da Medicina em 2011, a Ralph Steinman) propõe um tratamento individualizado e criado para cada organismo, de cada doente. São criadas vacinas com base no sangue do doente. Isto, à partida, parece-me muito mais eficiente por não se estarem a introduzir agentes externos e sim potenciar as células combatentes do nosso próprio organismo. Actualmente este tipo de tratamento está a ser feito na Alemanha e Inglaterra. Na reportagem foram abordados alguns doentes a tratar-se no Instituto do Tratamento do Tumor, em Duderstadt, Alemanha, e falou o Dr. Thomas Nesselhut (da equipa de Steinman, que entretanto faleceu com cancro no pâncreas, e 3 dias antes do anúncio do Prémio Nobel...).


Não foi falado nesta reportagem mas devem lembrar-se. Em Portugal houve um caso muito mediático, já desde o ano 2010, de uma menina de 4 anos com diagnóstico de um tumor raro no rim (Tumor de Wilms). Os pais recusaram-se continuar a levar a filha às sessões de quimioterapia no IPO, tendo sido processados por isso e tendo-lhes sido retirada a tutela provisória da criança, para a levarem para a Alemanha e investirem no tratamento com células dendítricas. O tratamento acabou por revelar-se eficaz e o tumor desapareceu do corpo da menina. Por essa razão, mais tarde o Tribunal de Família e Menores acabou por arquivar o processo por constatar que afinal não existia negligência no tratamento da criança e que esta estava a ser clinicamente tratada, como se provou. A menina chama-se Safira Íris e deste caso já muito se falou e escreveu.
Aquilo que se pensa é que este tipo de tratamento funciona mais eficazmente com os tumores ditos sólidos (mama, rim, cérebro, pâncreas, útero e cólon) e claro tudo depende do estadio do cancro.

Não obstante ser uma abordagem ainda muito dispendiosa e simultaneamente pouco reconhecida a nível da sociedade em geral penso que é uma mais-valia e quiçá uma oportunidade de esperança para muitos doentes em que os tratamentos convencionais não resultem ou tenham demasiados efeitos secundários.

As Células da Esperança - TVI - 24/06/13

Comentários

João Bento disse…
Países chamados de "2a" a investir nas coisas certas:

http://www.onu.org.br/cuba-avanca-na-prevencao-e-combate-ao-cancer-com-investimento-em-biotecnologia-afirma-oms/

Se algum dia tiverem problemas de cancro de pulmão, aqui ficam os países onde se vão vender as vacinas... Sim porque para a Europa etc é demasiado cara! Mas não para a Argentina, Cuba, etc, etc...

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2013/05/31/interna_ciencia_saude,369051/argentina-e-cuba-desenvolvem-vacina-para-combater-cancer-de-pulmao.shtml

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