Avançar para o conteúdo principal

Não sei o que é que é pior



Acerca do caso da pequena Maria, na Grécia, retirada à família cigana com quem vivia desde bebé... há muito mais para reflectir do que apenas sobre o facto de ser sido vendida ou dada e qual vai afinal ser o seu futuro. 

Para mim, bem mais importante do que isso é admitir que toda esta operação pseudo-heróica de salvamento de uma criança supostamente raptada foi demasiado precipitada e teve tudo em conta menos uma coisa: a própria Maria e o seu bem-estar. 
Obviamente que é importante apurar e deslindar se existe tráfico/venda de crianças entre os países e também o aproveitamento que estas famílias podem ter junto da sociedade, através dos abonos e subsídios, ao apresentarem e registarem estas crianças como suas, não o sendo.

Mas...

mesmo que os pais ou família e comunidade com quem ela estivesse actualmente a viver não tivessem (aparentemente) as melhores condições, não se pode simplesmente tirar uma criança do seu meio sem se ter a completa certeza de que teria efectivamente sido raptada. Não se pode aplicar pena nem julgar sem provas. Se o indício fosse de abuso aí sim, sou da opinião que a criança deva preventivamente ser retirada. Mas neste caso, a família foi acusada de rapto (!!), não de maus-tratos, e a menina foi-lhes imediatamente tirada e colocada num qualquer centro social onde, se sabe agora, tem passado os dias a chorar e cheia de medo. Será que não percebem que para a menina isto está a ser muito traumático?! E sem necessidade disso...
E cúmulo dos cúmulos, como uma cereja em cima de todo este bolo vergonhoso e putrefacto, descobre-se afinal que os pais da Maria são um casal de ciganos búlgaros (SIM são ciganos também!!! e esta?!), que vivem na mais extrema pobreza, têm 10 filhos (alguns são realmente muito parecidos à Maria), e pelas imagens e entrevistas.... venha o Diabo e escolha qual a melhor família para a menina. Se os pais biológicos que a abandonaram/venderam (e só por aí não a merecem de volta) se a família que a acolheu/comprou e a tem criado ao longo destes anos. O aspecto e o meio em que vivem tanto de uns como de outros é tudo menos o desejável. Mas também não acho que colocar a menina sozinha numa instituição social e para adopção seja o melhor para ela. Se fizerem isso então tinham de fazer o mesmo com todas as crianças do mundo que nascem ou são criadas num meio pobre. E como sabemos isso não é possível. Porque ser pobre (ainda) não é crime. A vida é mesmo assim. Injusta. 


Para mim, o mais importante é ver qual o tipo de relação e afecto que a criança sente naturalmente e sem pressões para com a família cigana da Grécia que a tem criado. Para todos os efeitos estes são os seus familiares. Se elas os sentir como família então sou da opinião que é com eles que ela deve ficar e seguir o seu caminho. Se se provar que eles não tratam bem dela, que a usam para obter rendimento ilícito ou que a exploram então que lhes seja retirada. Aos pais biológicos, a meu ver, tampouco se lhes devia ser dada essa oportunidade, de recuperarem a criança. Se não têm condições para terem filhos... não os fizessem.

O mais preocupante desta história é o grau de precipitação que por vezes a suspeita e o medo nos podem levar a ter ou a sermos sujeitos a actos extremamente injustos. Neste caso as autoridades deduziram que uma menina loira de olhos claros não encaixava numa família cigana. Tudo se desenrolou a partir dessa suspeita. Afinal os pais verdadeiros são ciganos também... E aquilo que ficou mais claro no meio disto tudo foi que a autoridade se precipitou e isso é... muito grave. Imaginem agora que, no caso de serem caucasianos/raça branca, algum vosso antepassado ou algures nos vossos genes tinham características negras, e vinham a ter um filho negro. Imaginem a injustiça de irem na rua e um polícia vos arrancar a criança e levá-la para uma instituição até vocês provarem que o filho é mesmo vosso. Não vos parece bem pois não? Sei que depois haveria direito a indemnização e tudo o mais, mas não é o dinheiro que importa numa situação destas. O trauma e o sentimento de injustiça não vão passar nunca. E aquela criança e vocês vão ficar marcados por isso, para sempre. É muito ténue o que separa o nosso direito daquilo que pode infringi-lo alegando que o está a proteger.

Noticia

Notícia 1

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Sabem aquela expressão... "tas a dar-me música...."... pois é de isso mesmo que se trata!

Mas neste caso... é música boa!!! ;) O que é que, melhor que a música, consegue dizer tanto sem falar?! ;) "Ti prepara" que hoje estou destemida no que toca à quantidade de sons que tenho ouvido e quero partilhar... :))) Tove Lo - Habits (Stay High) - Hippie Sabotage Remix Meghan Trainor - All About That Bass Sam Smith - I'm Not The Only One Milky Chance - Stolen Dance Vance Joy - 'Riptide' The Sript - Superheroes Maroon 5 - Animals Maroon 5 - Maps (Explicit) Coldplay - Midnight Coldplay - True Love Coldplay - Ghost Story Especial.... e lindíssima esta próxima... :) Coldplay - Always in my head Boots Of Spanish Leather (Bob Dylan) - The Lumineers E, sabendo que é daquelas passageiras, mas que agora não consigo evitar dançar quando a oiço.... Bailando!! Enrique Iglesias - Bailando (Español) ft. Descemer Bueno, Gente De Zona The Black Mamba & Aurea - Wonder Why

Mais vale tarde...

Já há 1 ano que não publico nada por aqui. Não que faltem as ideias nem as palavras, mas faltou o tempo e a concentração necessária para escrever como gosto de fazer. Fui mãe entretanto. Isso explica quase tudo. Quis mergulhar sem rede nesse mundo. E assim o fiz. E sim, não é cliché, afirmar que há um antes e um depois de termos filhos. Se por um lado, e do ponto de vista mais simplista e naturalista existimos para assegurar a espécie e portanto não compliquemos as coisas, por outro, é um acontecimento que nos abre não necessariamente a um novo mundo mas muda a nossa perspectiva do mundo tal como o conhecíamos ou concebíamos antes. E isso altera profundamente a nossa vida. De repente passamos a ter um ser que depende de nós para sobreviver. E nós queremos, visceralmente, fazer de tudo para que ele não apenas sobreviva como viva da melhor forma possível em todos os aspectos que consigamos controlar. A minha atenção virou-se completamente para ele. É isto que para mim vale a pena fa

Leituras - "Equador"

de Miguel Sousa Tavares. 2003. Acho que, até à data, este deve ter sido o livro que li (ou absorvi...) mais rapidamente. Desde a primeira página até à última página prendeu-me e dele não me consigui libertar até terminar. Por variadas, e talvez algumas até inconscientes, razões. Porque estive recentemente no país sobre o qual a história recai - São Tomé e Príncipe. Porque consegui ligar cada detalhe descritivo aos sítios concretos por onde também passei. Porque percebi e senti a história. E por tudo o resto de um conjunto de pontas soltas e aparentes coincidências que aqui se ligaram. Mais não será preciso dizer para concluir que gostei bastante. "Quando, em Dezembro de 1905, Luís Bernardo é chamado por El-Rei D.Carlos a Vila Viçosa, não imaginava o que o futuro lhe reservava. Não sabia que teria de trocar a sua vida despreocupada na sociedade cosmopolita de Lisboa por uma missão tão patriótica quanto arriscada na distante ilha de S. Tomé. Não esperava que o cargo de