de Gillian Flynn. 2012.
Esta estória... faz jus ao género em que foi inscrita. É de facto um thriller. Tem suspense, terror (maioritariamente psicológico) e causa emoções fortes. E sabem que mais? Ao mesmo tempo fala de coisas normalíssimas, coisas do dia-a-dia. Fala de relações entre casais, entre irmãos, entre pais e filhos e filhos e pais, entre amigos e entre cada um com quem quer que cruze o seu caminho. Fala sobre pessoas e sobre as relações entre as pessoas. Quer isto dizer que a realidade e aparente normalidade também têm terror? Sim. Este raciocínio alude àquela expressão "ninguém é normal".
O conceito de normalidade a maior parte das vezes é a excepção e não a regra. Criam-se limites para o nosso comportamento e o que a sociedade espera de nós, mas a complexidade que se esconde dentro de cada um rebenta com essas correntes num ápice. O que acontece é que há pessoas que optam por se submeter e comportarem-se de acordo com aquilo que lhes ensinaram serem os padrões normais, e depois há outras cujo temperamento e personalidade não lhes permitem fazer isso e acabam por ser consideradas desviantes. Ou talvez há pessoas que conseguem adaptar-se melhor moldando o seu íntimo consoante precisam e depois há as outras que simplesmente se destacam, umas vezes para bem outras para mal. É o caso deste enredo. Mas a questão principal é pensarmos que nem sempre conhecemos as pessoas verdadeiramente. O que importa mais? Preferem ser mais felizes pensando que conhecem as pessoas que vos rodeiam ou a felicidade verdadeira só existe se se conhecer de verdade determinada pessoa e amá-la por isso. Podendo ela ser a maior psicopata do mundo. Talvez mais valha amar um assassino conhecendo-o totalmente do que amar uma pessoa aparentemente normal mas que não conhecemos na boa verdade. O que oculta pode ser muito mais perigoso do que o que se revela.
Amar em ilusão, ou amar a verdade nua e crua?Pode não parecer mas é uma escolha difícil.
O conceito de normalidade a maior parte das vezes é a excepção e não a regra. Criam-se limites para o nosso comportamento e o que a sociedade espera de nós, mas a complexidade que se esconde dentro de cada um rebenta com essas correntes num ápice. O que acontece é que há pessoas que optam por se submeter e comportarem-se de acordo com aquilo que lhes ensinaram serem os padrões normais, e depois há outras cujo temperamento e personalidade não lhes permitem fazer isso e acabam por ser consideradas desviantes. Ou talvez há pessoas que conseguem adaptar-se melhor moldando o seu íntimo consoante precisam e depois há as outras que simplesmente se destacam, umas vezes para bem outras para mal. É o caso deste enredo. Mas a questão principal é pensarmos que nem sempre conhecemos as pessoas verdadeiramente. O que importa mais? Preferem ser mais felizes pensando que conhecem as pessoas que vos rodeiam ou a felicidade verdadeira só existe se se conhecer de verdade determinada pessoa e amá-la por isso. Podendo ela ser a maior psicopata do mundo. Talvez mais valha amar um assassino conhecendo-o totalmente do que amar uma pessoa aparentemente normal mas que não conhecemos na boa verdade. O que oculta pode ser muito mais perigoso do que o que se revela.
Amar em ilusão, ou amar a verdade nua e crua?Pode não parecer mas é uma escolha difícil.
A primeira opção parece mais fácil, há-de ter mais momentos bons do que maus, é-se (ou pensa-se que se é) mais feliz por períodos mais prolongados de tempo, no entanto haverá sempre a sensação de faltar qualquer coisa, um pequeno vazio. Aquele vazio que todas as coisas que não são totalmente reais e sinceras fazem a uma relação, começam por ser mínimas mas a rotina e o próprio tempo encarregam-se de deixá-las vir ao de cima. E assim aquilo que começa como a perfeição pode revelar-se o mais assustador e frustrante dos caminhos.
A segunda opção é, à partida, mais difícil. Conhecer inteiramente o outro, todos os seus defeitos e virtudes, amá-lo e odiá-lo simultaneamente, é de certo um caminho de inícios muito tortuosos e difíceis. Não é fácil amar. Ponto final. Não é fácil amar de verdade alguém. Isso pode ser assustador. Mas também é desafiante. E talvez seja, passado algum (muito) tempo o mais compensador. Sinceramente não sei. Uma relação em que dois seres se conhecem totalmente um ao outro é com certeza mais forte e por isso mesmo mais difícil.
Bem... regressando ao livro. Ela desaparece. Ele é o principal suspeito. O próprio leitor é levado a pensar isso até metade da estória. Isto faz-nos pensar que por vezes aquilo que nos parecem indícios podem ser de facto apenas só isso, ainda que fortes. Mas afinal a vilã aqui é ela. Ela é manipuladora, super organizada, planeadora, fria, calculista, inteligente e completamente desequilibrada. Narcisista, egocêntrica e egoísta. Ela critica o facto de ser conhecida pela Incrível Amy mas na verdade, para além de adorar que a coloquem nesse patamar ela é na verdade a temível, a horrível Amy. Alguém que se acha superior aos demais, que se acha no direito de punir os outros e de achar que os outros têm de comportar-se como ela bem entende. Alguém capaz de matar e incutir sofrimento para "corrigir" as coisas. Uma sociopata nata. Um perigo ambulante capaz de destruir a vida dos outros. E para ela tudo isso é muito normal, e até justo. Por isso é que é psicopata, sociopata. Na cabeça dela, lendo os seus raciocínios quase que chegamos a entendê-la porque os argumentos que ela apresenta são realmente fortes. Mas ninguém sabe deste seu lado negro. Todos têm dela uma opinião muito boa. Ela é bonita, simpática, inteligente, jovial, interessante. Mas tem um lado negro gigante. A questão é que o marido, suspeito pelo homicídio e ocultação de cadáver da sua maravilhosa mulher, é o único que começa a perceber o que realmente aconteceu e de repente percebe que não conhece minimamente a pessoa com quem casou e com quem partilhou cama durante anos. Mas será que alguma vez a quis mesmo conhecer? Será que alguma vez se mostrou de verdade e amaria de verdade também se soubesse que ela era assim...desequilibrada?! O amor tem questões destas.
E o final é.... no mínimo inesperado e até um pouco perturbador. Fica a dica ;)
Frases ou ideias que registei desta estória:
"Almas gémeas. Eles próprios se denominam assim. Não têm arestas a limar entre si, nada de conflitos espinhosos, atravessam a vida como alforrecas siamesas - expandindo-se e contraindo-se instintivamente, enchendo os espaços uma da outra de forma fluída."
"As pessoas dizem que os filhos de lares desfeitos têm uma vida difícil, mas os filhos de casamentos de encantar também têm os seus desafios."
"Não é esse o objectivo de todos os relacionamentos? Sermos conhecidos e compreendidos por outra pessoa?"
"Ele é como uma bebida forte. Põe tudo na perspectiva correcta."
"O sono é como um gato. Só vem ter connosco se o ignorarmos."
"Era surreal. É isso que as pessoas dizem sempre quando querem descrever momentos simplesmente invulgares."
"Ela era demasiado independente, demasiado moderna para ser capaz de admitir a verdade: queria fazer de donzela".
"Sempre tiveste problemas com a verdade, arranjas sempre uma mentirinha, se pensas que isso pode evitar uma discussão a serio. Continuas a ansiar que toda a gente te julgue perfeito."
"Aos quarenta, um homem usa o rosto que ganhou."
"Da forma como algumas mulheres mudam de roupa, eu mudo de personalidade. Qual a personagem em que me sinto bem, qual é a mais desejada, qual é o último grito? Creio que a maioria das pessoas faz isto, só que não o admitem, ou então acomodam-se a uma personagem porque são demasiado preguiçosas ou estúpidas para desencadear uma mudança."
"A minha mulher é louca. Casei com uma cabra psicopata. Mas eu sentia uma pontinha de satisfação. Eu casei com uma cabra psicopata autentica e genuína."
"Amy gosta de fazer de Deus quando não está feliz. Deus do Antigo Testamento."
"Amy era brilhante e encantadora mas também controladora, tinha um transtorno obsessivo-compulsivo, era melodramática e uma grande mentirosa." "Livrou-se de mim porque eu sabia que ela não era perfeita."
"Os amigos vêm a maior parte dos defeitos uns dos outros. Os cônjuges vêm tudo, até ao mais ínfimo pormenor."
"Compreendo agora porque é que tantos filmes de terror usam este mecanismo - o bater à porta misterioso. É porque tem a carga de um pesadelo. Não sabemos o que está lá fora, mas sabemos que a iremos abrir. Pensam o mesmo do que eu: Ninguém realmente mau bate à porta!"
"Não diga reviver mas sim reinvestir. Fazer reviver significa que alguma coisa estava morta."
"agora sou eu que sinto o impulso irresistível de matar a minha mulher..."
"Ele diz que estou segura e sou amada, embora não me deixe ir embora, o que não me faz sentir lá muito segura e amada."
"Esta mulher conhecia-me em absoluto. Conhecia-me melhor do que qualquer outra pessoa no mundo.Todo este tempo, pensara que éramos uns estranhos, e afinal conheciamo-nos um ao outro de forma intuitiva, nos nossos ossos, no nosso sangue. Até era romântico. Catastroficamente romântico."
"A máxima mais fiável do sociopata: quanto maior a mentira, mais eles acreditam."
"Um amor como o nosso pode entrar em remissão, mas está sempre à espera de voltar. Como o cancro mais doce do mundo."
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