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Surrealidades do meu dia-a-dia #4

Como já deu para perceber, de repente e na vulgaridade do meu dia-a-dia surgem acontecimentos e/ou encontros que começam de forma completamente inofensiva e por coisas mínimas e quando dou por isso transformam-se em autênticos filmes. Uns de curta, outros de longa (íssima!!) metragem. Só que não se trata de ficção. São coisas que me acontecem mesmo!! :S
Frequentemente me vejo dentro de histórias mirambulescas, rebuscadas até (!), com enigmas, com acontecimentos e reacções inusitadas, caricatas. Até à data não têm terminado mal... ficando apenas histórias para contar... mas lá que me deixam completamente enrolada e atordoada... lá isso deixam!
Se tiverem a sentir algum marasmo nas vossas vidas aproximem-se de mim! Mais dia menos dia acontece-nos uma aventura digna de tela de cinema!!

Ora bem, a surrealidade efectivamente acontecida (lol) que vos vou contar agora podia ter como título: "Estar no sítio errado, à hora errada, com a atitude certa e muitos mal-entendidos." Mas não... acho que se chama mesmo só "Ana Di presente"... pronto... isso só por si já implica que todo o desenvolvimento do acontecimento seja algo inesperado e enredante.


Ficou a história... e uma noite muito mal dormida!

Dia de semana. Dez para as quatro da manhã. Toca o meu telemóvel. Acordo sobressaltada e vejo que me está a ligar uma amiga, antiga vizinha, que vive noutra cidade, a cerca de 200 km daqui. Começo por pensar que deve ser engano ou algum bug do telefone mas atendo...
- Tou?!
- Sim, Ana... é a L..... podias-me dar o telefone de casa dos teus pais?!
(what?!!? atão mas esta rapariga liga-me a esta hora para me pedir o número dos meus pais!?!?!? deve estar choné!! Ou passa-se alguma coisa com os meus pais que eu não sei?!!? - foi exactamente isto que eu pensei naquele momento...)
- Sim posso L. , mas para que é que queres o número dos meus pais a esta hora?
- Ai Ana... preciso muito de falar com o teu pai. Para ver se ele pode ir ter com a minha mãe, que está à porta de casa e não tem chaves.
- O quê? Atão mas o que é que a tua mãe ta a fazer a esta hora à porta de casa, sozinha e sem chaves?
- Ela veio do serviço às 20h e quando chegou a casa apercebeu-se que não tinha as chaves. Ainda voltou ao serviço para ver se as tinha deixado por lá ou perdido no caminho mas não as encontrou. E para além disso... (fez um silêncio pesado...), ela não sabe do meu pai. Ainda não apareceu em casa e não sabe onde é que ele está. Isto nunca tinha acontecido. O mais tarde que o meu alguma vez chegou a casa foi à meia-noite!
- Ora bem... então olha lá... antes de ligares para os meus pais, não vale a pena estar a acordá-los, eu vou ter com a tua mãe e vamos ver do teu pai. Pode ser?
- Não Ana... não vás. É melhor ir o teu pai...
- Mas porquê? Estão com receio de alguma coisa em concreto?
- Não... mas entretanto a minha mãe ficou sem bateria, não consigo falar com ela, não sei bem o que é que se está a passar, e acho que me vou pôr a caminho.
- Não L. , não vale a pena vires. São 2 horas de caminho e isso não vai resolver a situação do teu pai estar desaparecido. Se encontrarmos o teu pai resolvemos também o problema da falta de chaves e a tua mãe entra em casa.

Lá me vesti. (Calças de ginástica, um casaquinho polar e a blusa do pijama por baixo!!lololol) Meia ramelosa meti-me no carro e abalei.
Quando lá cheguei, lá estava a mãe da L., veio ter comigo assim que ouviu um carro a chegar (pensava que era o marido...). Explicou-me que tinha estado sentada à porta de casa desde as 20h30. Sempre a achar que o marido ia chegar a qualquer momento. E quando passou da meia-noite e ele não chegou... teve medo e vergonha de chamar os vizinhos. Então ficou ali. E para ajudar à festa, a luz do prédio fundiu-se nessa noite e portanto a senhora esteve grande parte do tempo às escuras.
Pergunto-lhe onde acha que o marido pode estar. Com quem falou ele hoje. Até que horas soube dele e onde estava. Disse-me que não sabia nada desde a hora de almoço. Ela saiu para o trabalho e ele ia falar com um conhecido (ela não sabia do quê), mas esse conhecido era um senhor já velhote que às vezes o acompanha na horta. Não sabe bem o nome dele, apenas o apelido (R.), e acha que ele vive para os lados do cemitério.

Partimos então as duas à procura do desaparecido. Na minha opinião, ele, ou estava na galhofada com amigos e deixou passar a hora, ou bêbado e caído nalgum lado, ou então podia ter acontecido algo pior uma vez que ele não dava sinal de vida já há muito tempo. O senhor não só não usa telemóvel como o único número que sabe de cor é o número do telefone fixo da casa deles. Mais nada.
E isso já dava alguma pista porque a senhora, enquanto esteve sentada à porta de casa, diz que o telefone em casa tocava sem parar por volta das 3 da manhã. Quem seria? Seria o marido a avisar de qualquer coisa?

Comecei a ficar arrepiada. Fomos à polícia, hospital. Nada. Fomos a todos os sítios onde ele costuma ir com os amigos. Percorremos tudo mais do que uma vez. Nada.

Propus-lhe irmos à tal horta que o marido explora, podia ele ter ido para lá durante a tarde, estar sozinho como sempre e ter-se sentido mal. Ela aceitou, mas aqui sim fui acordar os meus pais porque a horta do senhor fica num sítio isolado e não me parecia boa ideia irmos sozinhas para lá àquela hora da noite.

Escusado será dizer que os meus pais acordaram assarapantados... A minha mãe pensava que era um ladrão a entrar-lhe em casa! O meu pai lá se vestiu à pressa e abalámos.
Antes de irmos à horta passámos mais uma vez nos locais que o senhor costuma frequentar. Et voilá! Encontrámos o carro dele. Bem estacionado. Bem fechado. Tudo muito normal. Estava estacionado perto do cemitério. Que é perto da casa do tal amigo (que não sabíamos onde morava, mas também é perto de um café, que àquela hora já estava fechado).
Percorremos as redondezas a pé e de carro. À procura dele... pois podia estar caído por ali. Nada. Niente.

Eram já quase 6 da manhã e o ponto de situação era: muitas voltas à cidade, apenas encontrado o carro, não tínhamos pista de onde teria ido nem com quem. Muito menos de onde estava.
Fomos para a casa dos meus pais.
Decidimos que talvez fosse melhor chamar os bombeiros para pelo menos ela conseguir entrar em casa. Quanto ao marido não sabíamos o que fazer nem que pensar... Mas podia ser que o telefone de casa deles voltasse a tocar e isso desse alguma pista!!

A senhora... já a pensar o pior... lembrou-se de ligar para um familiar. Essa pessoa confirmou que o marido ia ter com o senhor R. almoçar. Será que tinha sido um almoço assim tão prolongado?!
Perguntou-lhe então o número de telefone do R. Não sabia. Ora bolas... então e o nome? Ahhhh... chama-se J.L. R.....
Pesquisei na lista e encontrámos um coincidente. Olhámos para o relógio e vimos que não eram ainda horas de ligar a ninguém mas... estavámos desesperados.
Tentámos uma vez. Ninguém atendeu.
Tentámos uma segunda vez... atendeu o senhor R. Tinha sim estado com o marido da senhora e... (preparem-se....) tinha-o ido levar a casa às 19h... e tinha-o deixado sentado no sofá!!!! O QUÊ!?!?!? Então mas o marido da senhora estava em casa? E porque não atendia o telefone que tocava sem parar ou abria a porta?!!?
Sim... isso mesmo... alguma coisa grave se passava.
Ou tinha sido uma bebedeira tão grande que ele teve algum colapso (e nesse caso tínhamos de chamar urgentemente os bombeiros e o INEM) ou tinha saído de casa à procura da mulher.

O meu pai bateu com toda força na porta e gritávamos pelo nome dele. Nada.
A senhora, aflita e chorosa, pegou no telefone e começou a digitar o 112...

Eis quando... a porta de casa se abriu.

O senhor estava em casa.

Abriu a porta e desapareceu para o quarto. Nem a cara mostrou.
Sim... a conclusão da história e de toda aquela ansiedade foi:
- parte boa: o senhor estava vivo, (semi-)consciente e em casa!
- parte muito má: o senhor apanhou uma tal e descomunal bebedeira que o tiveram de trazer a pé para casa, deve ter "apagado", ficado inconsciente e passadas 12h ainda nem tinha dado por falta da mulher em casa... que o procurava pela cidade que nem uma doida e desesperada. E para além dela, eu, o meu pai, a minha mãe, e mais um familiar, todos arrolados naquela história.

Naquele momento... entrou-se-me uma raiva... pela falta de responsabilidade em beber numa idade daquelas (são pessoas de 60 e tais anos), pela falta de zelo para com a própria mulher... que, embrutecida,  irrompi pela porta semi-aberta da casa e fui à procura dele. Queria falar com ele, chamar-lhe tudo e se possível dar-lhe um soco naquela cara de sonso! Não o fiz, porque os meus pais me agarraram e me chamaram à razão. E por atenção a eles... voltei para trás. Mas disse à senhora que ia falar com o marido quando o apanhasse na rua. O que ele fez simplesmente não se faz! Eu estava piurça!! Só de pensar que por causa daquele estúpido estava a perder uma noite de sono, ia trabalhar daí a horas, andei sob um stress desgraçado e ainda por cima gastei combustível à procura de Sua Exa.!!!

Agora que olho para trás percebo que se tivesse feito o que queria naquele momento, ia arrepender-me mais tarde. Porque o mais grave aqui foi a desconsideração que ele teve para com a esposa, e isso é um problema que só o casal pode e tem de resolver. Não me devia meter nisso. (Já diz o ditado... entre marido e mulher... não se mete a colher...)

A senhora, em lágrimas, e visivelmente triste, desiludida e cansada, despediu-se de nós e agradeceu. Vi-a fechar a porta de casa muito suavemente, devagarinho e com cuidado. Percebi que ao longo das últimas horas ela estava desesperada por voltar a casa e agora que lá estava parecia não se sentir lá bem... Percebi o porquê e naquele momento senti imensa pena dela...
Encontrámos o marido, mas quem se perdeu foi ela.
Não chegámos a saber quem ligou para a casa deles durante a madrugada... uma coisa é certa: o marido não tinha sido...!!!!


Oh Yeah...

Comentários

José Luís disse…
Grandes aventuras em que tu te metes Ana :) Mas quem seria que telefonava às 3:00 da manhã??? Mistérioooo
Ana Dionísio disse…
Oh pa!!! ficámos sem saber e sem perceber!!! :P

Mis-téeeerio!!!!

:D:D

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