de H.G. Wells. 1898.
Este livro pode enquadrar-se numa secção de ficção científica, mas também de filosofia, especulativa tal como referida pelo próprio autor, que é, simultaneamente o narrador da história.
Inícios do século XX, Inglaterra. Invasão da Terra por marcianos. Seres mecânicos, funcionais, eficientes, inteligentes e motivados para exterminar a Humanidade e conquistar o nosso planeta.
Um mundo a invadir outro mundo.
A Humanidade é sempre muito curiosa acerca do espaço, dos outros planetas e de possíveis seres vivos extraterrestres. Mas quando o assunto se torna lidar com seres extraterrestres reais e com melhores meios de ataque e estratégia do que os nossos... a coisa já muda de figura, muda a perspectiva, a ordem vira caos... e a curiosidade dá lugar ao horror e ao medo da morte, não apenas do homem em si mas do nosso mundo tal como o conhecemos. Talvez não seja ridículo comparar a invasão de seres extraterrestres mais inteligentes e fortes do que nós, àquilo que nós próprios fazemos às outras espécies que já habitam connosco o próprio planeta Terra! A forma como nos achamos muito superiores e banalizamos o facto de, por exemplo, destruir uma (simples?!) colónia de formigas ou como desatamos a matar bicharocos só porque sim, porque nos incomodam, porque nos fazem comichão ou simplesmente porque não gostamos deles e apetece-nos exterminá-los. .. é de facto um exemplo muito fiel de uma suposta invasão extraterrestre.
Não obstante o sentimento de desesperança, reflectir no que um acontecimento deste tipo diria do nosso mundo e da forma como vivemos e nos organizamos, só nos pode enriquecer. A melhor estratégia resulta de especulações, simulações e calculismos.
Quais os nossos pontos fracos? Quais os nossos pontos fortes?
Os nossos pontos fracos podem vir a ser a nossa melhor arma?
Os nossos pontos fortes podem vir a traduzir-se em nada?
É precisamente esse tipo de questões que me coloco ao ler uma narrativa deste tipo. As coisas raramente são o que parecem. E por vezes há luz no meio de uma imensa escuridão. O pequeno pode ser gigante e o gigante minúsculo. Como?
Têm de ler o livro e saber como é que a melhor artilharia não consegue fazer frente ao armamento mais sofisticado e eficiente de seres mais evoluídos do que nós, mas talvez a solução seja bem mais simples e fácil. É apenas deixar que a natureza faça o seu papel de melhor seleccionadora de espécies num dado meio.
Objectivo: sobreviver.... :)
Ideias/frases de que gostei particularmente no livro:
"Travava-se em mim uma batalha entre o medo e a curiosidade"
"... dados que os marcianos eram, a despeito da forma repugnante, criaturas inteligentes, fora resolvido que se lhes mostrasse, aproximando-nos deles com sinais, que também somos inteligentes..."
"Agora, era como se qualquer coisa tivesse mudado e os meus pontos de vista tivessem alterado bruscamente." "transição mental de um estado mental para outro"
"É provável que eu seja um homem de carácter excepcional. Não sei até que ponto a minha experiência é vulgar. Às vezes, sofro de uma estranha sensação de afastamento de mim mesmo e do mundo que me cerca: parece-me que observo tudo de fora, de algum sítio inconcebivelmente afastado, longe do tempo e do espaço, onde estão ausentes a tensão e a tragédia que rodeiam todas as coisas."
"... a febre da guerra... que enche as veias e as artérias, aniquila os nervos e destrói o cérebro..."
"... salvo pelo preço da sua vida..."
"... morreu lentamente na distância..."
"... amolecia e fluía finalmente naquela rápida liquefacção do corpo social..."
"Quando a fome se tornou mais premente, os direitos da propriedade deixaram de ser respeitados."
"Não se precisava agora de bravura, mas de circunspecção."
"... a mão, professor e agente do cérebro..."
"Vivi nesse momento uma emoção que ultrapassava a vulgar medida humana, bem conhecida, no entanto, dos próprios animais que dominamos. Sentia-me como um coelho ao regressar à toca, deparando de súbito com o trabalho de uma dúzia de cabouqueiros atarefados a escavar os alicerces de uma casa. Era o primeiro indício de algo que é actualmente muito preciso e que me oprimiu durante muitos dias, uma sensação de destronamento, uma convicção de que já não era um senhor, mas um animal entre os animais, espezinhado pelos marcianos. Para nós, como para aqueles, tratava-se de esconder e espreitar, de fugir e esconder; passara a época em que os Homens eram receados, e do seu império."
"No silêncio da noite, com aquele sentido da proximidade de Deus, perceptível, por vezes, no silêncio e no escuro, submeti-me a julgamento..."
"Isto não é uma guerra... Nunca foi uma guerra, do mesmo modo que não se poderia falar de guerra entre os homens e as formigas."
"... aniquilados pelas coisas mais humildes que Deus, na sua sabedoria, colocou na Terra."
"... esperemos ou não outra invasão, os nossos pontos de vista acerca do futuro da Humanidade devem sofrer uma grande modificação em consequência destes acontecimentos. Sabemos agora que não podemos olhar para este planeta como uma fortaleza e um lugar onde o Homem poderá resistir em segurança; nunca podemos prever o bem ou o mal que pode chegar de súbito até nós, vindo do espaço; é possível que, nos mais latos desígnios do universo, esta invasão dos marcianos se venha a mostrar benéfica para os homens: roubou-nos aquela serena confiança no futuro que é a mais fértil fonte de decadência; os dons que ofertou à ciência humana são enormes e contribuiu grandemente para promover a concepção da comunidade humana."
"É confusa e maravilhosa a visão que imaginei da vida a expandir-se lentamente deste pequeno leito do sistema solar, através da vastidão inanimada do espaço sideral."
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