Dou imenso valor aos artistas de rua. Porque sem eles (às vezes nem nos apercebemos disso...) as ruas teriam muito menos encanto, menos magia. Admiro o seu espírito de sacrifício e a coragem de exporem a sua arte, mais ou menos afinada ou requintada, assim, a toda a gente e num lugar como a rua. Que tem tanto de cheio como de vazio. Tanto de multidão como de solidão. E onde a crítica é mais directa, e onde se está sujeito à indiferença do outro, que é a pior das críticas!
Em Portugal já lhes dou atenção, e lá fora ainda fico mais sensível a artistas de rua. Porque estou num meio diferente, em ruas por onde circulam pessoas que não conheço de lado nenhum, porque a cultura é diferente, e nesses momentos a arte é um elo de ligação e de viagens interiores.
Em Paris, precisamente há um ano atrás, estávamos a sair do museu Centre du Pompidou e eis que começo a ouvir uma voz e uma melodia que me fizeram transportar a tempos ancestrais. Parte de mim não percebia nada daquelas palavras, outra parte entendia cada sílaba. Uma sensação estranha...
Era Boudji. Um artista de rua com um vozeirão. E muita melodia nessa mesma voz. Autor e compositor.
Na altura pesquisei sobre ele. É argelino. (A Argélia foi conquistada pela França no século XIX). E muitas das suas músicas são cantadas em kabyle/kabile/cabila, um dialecto berbere argelino. Achei isso interessante.
Isto, por sua vez, fez-me querer saber mais sobre os berberes kabyle....
"The Kabyle are Berbers located in the coastal mountain regions of northern Algeria. The Arabs call this entire region of North Africa "Maghrib." The Maghrib was conquered by the Muslims between 670 and 700. "Berber" comes from an Arabic name for the aboriginal people west and south of Egypt.
The Kabyle live in the rugged, well-watered al-Quabail Mountains. These inaccessible peaks have long served as a refuge for the Berbers, forming a base of resistance against the Romans, Vandals, Byzantine, and Arabs. The mountains, some rising about 7,000 feet, are well watered. However, the landscape remains rugged. Migration is becoming more common among the Berbers, and it is estimated that several million Berbers now live in European cities."
Este tipo de dialectos, que fazem corresponder os territórios aos seus povos africanos originários, antes das conquistas europeias, estão a perder-se. Fruto da História e da evolução dos acontecimentos, como tudo na vida, extinguir-se-ão e passam a ser exotismo ou raridade. Por essa razão é que gostei ainda mais de ouvir Boudji. Porque as suas músicas transportam-me a um passado que sustenta a realidade presente.
Boudji World Music
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