de José Saramago. 1997.
Há muitos factores que nos levam ou não a fazer algo. Normalmente são pequenos (ou aparentemente pequenos!) detalhes que nos fazem mover e tomar decisões. No caso de comprar e ler este livro foi a frase inscrita na contra-capa do livro - "Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens" - Livro das evidências. Gostei, e foi isso que me fez ter vontade de abrir o livro, folheá-lo e descobri-lo.
É um livro denso, (auto) reflexivo. Com a típica escrita corrida e sem interrupções de José Saramago. Exige que estejamos atentos para nunca deixar de perceber quem está a falar ou a pensar. Se o narrador, a personagem, consigo própria ou com outras personagens, e assim perceber o enredo e a mensagem.
É difícil ler, mas consigo perceber o modo de escrita do autor. É contínuo, mais ou menos fluído, como afinal de contas deve o pensamento também ser. Sem espaços nem quebras, e assim tudo se liga e encadeia entre si.
Quem me vê quando estou a ler pensa que estou a estudar. Normalmente leio de lápis na mão. Desde sempre. E sublinho cada frase ou palavras de que gostei particularmente ou que me fizeram reflectir. Eu leio para aprender coisas novas, externas e internas, e por isso, entruso-me muito no que estou a ler. Leio, sublinho, dobro folhas, releio o que sublinhei e penso sobre aquilo que me despertou essa atenção e o que é que isso me ensinou. Para mim a leitura não é apenas um prazer. É uma possibilidade de viagens infinitas de (auto) conhecimento.
Sobre a história. O Sr. José, personagem principal, é um trabalhador da Conservatória Geral. Vive sozinho, e acima de tudo vive só... Tem uma vida monótona, insípida, com regras para tudo, limitado, contido, e claro.... triste. No fundo ele, e como ele tantos, não vive, ele sobrevive, agarrado à ideia de que é útil no seu trabalho e portanto para a sociedade. Mas para a vida em si, e para a sua própria vida, ele está morto, ainda que a respirar. E é precisamente em mais um desses dias de monotonia e cinzentismo que o Sr. José resolve quebrar algumas regras e fazer uma coisa sem sentido nenhum. Investigar a vida de uma desconhecida cujo verbete lhe foi parar às mãos. E é esse o pequeno passo que leva a personagem a fazer coisas antes impensáveis, a ir, a sair, a ser activo, até mesmo a questionar-se sobre a vida, e a chegar a interessantes conclusões. Basicamente foi abençoado no dia em que decidiu viver e ser quem queria ser. Fazer o que lhe apetecer. Ir em busca do que pensa precisar, mesmo que isso pareça não fazer sentido nenhum! Vê-se por muitas vezes completamente perdido no labirinto que é a sua vida e a sua mente, mas também descobre que pode usar o seu próprio fio de Ariadne...
É incrível o que podemos descobrir quando nos aventuramos a viver... :)
Frases, palavras ou ideias de que gostei particulamente (são muitas mesmo.... o livro ficou praticamente todo sublinhado!):
É um livro denso, (auto) reflexivo. Com a típica escrita corrida e sem interrupções de José Saramago. Exige que estejamos atentos para nunca deixar de perceber quem está a falar ou a pensar. Se o narrador, a personagem, consigo própria ou com outras personagens, e assim perceber o enredo e a mensagem.
É difícil ler, mas consigo perceber o modo de escrita do autor. É contínuo, mais ou menos fluído, como afinal de contas deve o pensamento também ser. Sem espaços nem quebras, e assim tudo se liga e encadeia entre si.
Quem me vê quando estou a ler pensa que estou a estudar. Normalmente leio de lápis na mão. Desde sempre. E sublinho cada frase ou palavras de que gostei particularmente ou que me fizeram reflectir. Eu leio para aprender coisas novas, externas e internas, e por isso, entruso-me muito no que estou a ler. Leio, sublinho, dobro folhas, releio o que sublinhei e penso sobre aquilo que me despertou essa atenção e o que é que isso me ensinou. Para mim a leitura não é apenas um prazer. É uma possibilidade de viagens infinitas de (auto) conhecimento.
Sobre a história. O Sr. José, personagem principal, é um trabalhador da Conservatória Geral. Vive sozinho, e acima de tudo vive só... Tem uma vida monótona, insípida, com regras para tudo, limitado, contido, e claro.... triste. No fundo ele, e como ele tantos, não vive, ele sobrevive, agarrado à ideia de que é útil no seu trabalho e portanto para a sociedade. Mas para a vida em si, e para a sua própria vida, ele está morto, ainda que a respirar. E é precisamente em mais um desses dias de monotonia e cinzentismo que o Sr. José resolve quebrar algumas regras e fazer uma coisa sem sentido nenhum. Investigar a vida de uma desconhecida cujo verbete lhe foi parar às mãos. E é esse o pequeno passo que leva a personagem a fazer coisas antes impensáveis, a ir, a sair, a ser activo, até mesmo a questionar-se sobre a vida, e a chegar a interessantes conclusões. Basicamente foi abençoado no dia em que decidiu viver e ser quem queria ser. Fazer o que lhe apetecer. Ir em busca do que pensa precisar, mesmo que isso pareça não fazer sentido nenhum! Vê-se por muitas vezes completamente perdido no labirinto que é a sua vida e a sua mente, mas também descobre que pode usar o seu próprio fio de Ariadne...
É incrível o que podemos descobrir quando nos aventuramos a viver... :)
Frases, palavras ou ideias de que gostei particulamente (são muitas mesmo.... o livro ficou praticamente todo sublinhado!):
“A distribuição das tarefas pelo conjunto dos funcionários
satisfaz uma regra simples, a de que os elementos de cada categoria têm o dever
de executar todo o trabalho que lhes seja possível, de modo a que só uma mínima
parte dele tenha de passar à categoria seguinte.”
“... desse perturbador desequilíbrio nervoso a que
vulgarmente chamados atracção do abismo...”
“Dar por entendido que sim era uma outra maneira de
justificar a indiferença.”
“... o seu espírito metódico se sente desafogado obedecendo
a um princípio de igualdade...”
“O Sr. José tem o louvável pudor daqueles que não andam por
aí a queixar-se dos seus transtornos nervosos e psicológicos, autênticos ou
imaginados...”
“... fazem-no por algo a que poderíamos chamar angústia
metafísica, talvez por não conseguirem suportar a ideia do caos como regedor
único do universo, por isso, com as suas fracas forças e sem ajuda divina, vão
tentando pôr alguma ordem no mundo...”
“... sabido que o espírito humano, muitas vezes, toma
decisões cujas causas mostra não conhecer, sendo de supor que o faz depois de
ter percorrido os caminhos da mente com tal velocidade que depois não é capaz
de os reconhecer e muito menos reencontrar.”
“... todos os nomes...”
“... não há nada que mais casnse uma pessoa que ter de lutar,
não com o seu próprio espírito, mas com uma abstracção...”
“nec plus ultra” (em latim - o
limite, o nada além disso)
“... naquela área a que convencionámos chamar de fronteira.”
“O sábio é sábio consoante o grau de prudência que o
exorne...”
“... e este é o modo de olhar de quem, aos poucos, sem
desejo nem recusa, se vai desprendendo de algo e ainda não vê aonde poderá
deitar a mão para tornar a segurar-se.”
“... o tempo, ainda que os relógios queiram convencer-nos do
contrário, não é o mesmo para toda a gente.”
“Já reparou que está a responder a perguntas, Sim, mas não
me importa, se calhar é assim que se aprende, respondendo,...”
“... quantas são as pessoas que existem num casamento, Duas,
o homem e a mulher, Não senhor, no casamento existem três pessoas, há a mulher,
há o homem, e há o que chamo de terceira pessoa, a mais importante, a pessoa
que é constituída pelo homem e pela mulher juntos.”
“Entre matar e deixar morrer, preferi matar”
“...não falta mesmo
quem sustente que Deus, antes de se pôr a amassar o barro com que depois os
fabricou, começou por desenhar com um pau de giz o homem e a mulher na
superfície da primeira noite, daí é que nos veio a única certeza que temos, a
de que fomos, somos e seremos pó, e que em uma noite tão profunda como aquela
nos perderemos.”
“... com o risco de dar um passo em falso e cair
desastradamente no abismo de onde viera...”
“... o Sr. José sabe que só precisa de tempo para usar a
paciência, desde o princípio que espera que à paciência não venha a faltar-lhe
o tempo... fiel à regra de que em todas as operações de busca o melhor é
começar sempre por uma ponta e avançar com método e disciplina.”
“... à espera de encontrar no fundo da mina o carbono puro
de um diamante.”
“...o que o tempo faz mudar, e não o nome, que nunca varia...”
“Este não pareço eu, pensou, e provavelmente nunca o havia
sido tanto.”
“...obediente e cumpridor...paradoxal orgulho de o ser...
não rasteiro e subserviente...”
“... só os melhores chefes são capazes de unir de forma
harmoniosa sentimentos tão contrários...”
“...pronunciava glúteo mesmo quando tinha de tratar com
doentes para quem nádega não passava de um ridículo preciocismo de linguagem e
preferiam a variante grosseira de nalga...”
“... sentido e significado nunca foram a mesma coisa, o
significado fica-se logo por aí, é directo, literal, explícito, fechado em si
mesmo, unívoco, por assim dizer, ao passo que o sentido não é capaz de
permanecer quieto, fervilha de sentidos segundos, terceiros e quartos, de
direcções irradiantes que se vão dividindo e subdividindo em ramos e ramilhos,
até se perderem de vista, o sentido de cada palavra parece-se com uma estrela
quando se põe a projectar marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos,
perturbações magnéticas, aflições.”
“... a melhor maneira de defender os segredos próprios ainda
é guardar respeito aos segredos alheios...”
“Habituado à relacionação das causas e dos efeitos, que
nisso consiste, essencialmente, o sistema de forças que rege desde o princípio
dos tempos a Conservatória Geral, lá onde tudo esteve, está e há-de continuar a
estar para sempre ligado a tudo, aquilo que ainda é vivo àquilo que já está
morto, aquilo que vai morrendo àquilo que vai nascendo, todos os seres a todos
os seres, todas as coisas a todas as coisas, mesmo quando não parecem ter a
uni-los, eles e elas, mais do que aquilo que à vista os separa...”
“... aliás a pele é tudo quanto queremos que os outros vejam
de nós, por baixo dela nem nós próprios conseguimos saber quem somos...”
“...frustantes sucessos...”
“O imaginário e metafísico diálogo com o tecto servira-lhe
para encobrir a total desorientação do seu espírito...”
Entre o medo e o temor. “... àquele difuso temor do oculto e
ignoto a que tem humaníssimo direito mesmo a mais corajosa das pessoas...”
“Homem, não tenhas medo, a escuridão em que estás metido
aqui não é maior do que a que existe dentro do teu corpo, são duas escuridões
separadas por ema pele, aposto que nunca tinhas pensado nisto, transportas todo
o tempo de um lado para o outro uma escuridão... tens de aprender a viver com a
escuridão de fora como aprendeste a viver com a escuridão de dentro...”
“... imaginar um círculo quadrado...”
“... a memória, que é susceptível e não gosta de ser
apanhada em falta, tende a preencher os esquecimentos com criações de realidade
próprias, obviamente espúrias, mas mais ou menos contíguas aos factos de cujo
acontecer só lhe havia ficado uma lembrança vaga, como o que resta da passagem
duma sombra.”
“... in mente...”
(em latim - na mente, no espírito)
“... a tradição, que é, como tal, tanto no seu conjunto como
no seu sentido, imutável. Ninguém irá viajar ao tempo passado para mudar uma
tradição que nasceu no tempo e que pelo tempo foi alimentada e sustentada.
Ninguém nos virá dizer que o existente não existiu, ninguém ousará querer, como
uma criança, que o que aconteceu não tivesse acontecido. E se o fizessem
estariam a perder o seu próprio tempo. Estes são os alicerces da nossa razão e
da nossa força, este é o muro por trás do qual nos foi possível defender, até
aos dias de hoje, quer a nossa identidade quer a nossa autonomia.”
“... a morte definitiva é o fruto último da vontade de
esquecimento, assim a vontade de lembrança, poderá perpetuar-nos a vida.”
“... como alguém que,
tendo subido a uma montanha para alcançar as paisagens de além, resiste a ver
regressar ao vale enquanto não sentir que nos seus olhos deslumbrados já não
cabem mais vastidões.” (tão eu....)
“... como quem se resolveu curar a mordedura do cão com o
pêlo do mesmo cão...”
“... é nas ocasiões de mais extremo apuro que o espírito dá
a autêntica medida da sua grandeza...”
“... meditar profundamente na irremessível precariedade da
existência, na vacuidade de todos os sonhos e de todas as esperanças, na
fragilidade absoluta das glórias mundanas e divinas.”
“... hipótese irónica em que a mentira, parecendo estar a
repetir-se a si mesma, tornaria a ser verdade. As obras do acaso são
infinitas.”
“Morto o bicho, acabou-se a peçonha.”
“Há quem diga... que quanto mais se olha menos se vê...”
“O que está para além da morte, nunca ninguém viu nem verá,
de tantos que para lá foram, nunca nenhum voltou cá.”
“... este homem pertence à multidão dos que sempre vão
deixando o mais importante para depois.”
“... a verdade é que a situação, a lei aconselhando o crime,
lhe deu um certo prazer subversivo...”
“A metáfora sempre foi a melhor forma de explicar as
coisas.”
“O espírito humano é o lugar predilecto das contradições.”
“... deseja e teme o que deseja...”
“O melhor guarda da vinha é o medo que o guarda venha.”
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