"Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...
Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.
Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria
Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora."
Ângelo de Lima, in 'Antologia Poética'
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...
Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.
Pára e fica na doida correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria
Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora."
Ângelo de Lima, in 'Antologia Poética'
O documentário português do realizador Jorge Pelicano, de título "Pára-me de repente o Pensamento" Site oficial - aqui), consiste na apresentação cinematográfica transgressiva da estada do actor Miguel Borges no Centro Hospitalar Conde de Ferreira (CHCF) - um Hospital Psiquiátrico -, no Porto, e mostra, de uma forma muito natural e crua, a vida e forma de ser e estar de alguns dos residentes/pacientes do CHCF. Doentes mentais, maioritariamente casos de esquizofrenia, que, no âmbito de uma peça de teatro, recebem um novo "inquilino" na sua casa. (Sim, na sua casa. Porque, não obstante os que não gostam de lá estar, aquele sítio é de facto a casa de muitos deles, que vivem lá há dezenas de anos.) A peça de teatro aborda, entre outras coisas, a vida/obra de um artista que foi "inquilino" da casa... o poeta/pintor Ângelo de Lima, cuja personagem irá ser encarnada pelo actor Miguel Borges.
É um documentário excelente. Sem filtros. Com silêncios indutores de reflexão e algumas gargalhadas no meio do aparente caos que a loucura (também ela aparente...) pode ser.
Recomendo. Muito.
Gostei do Alberto. Do Torres. E do Abreu. Alguns dos residentes...
E, para além da representação efectiva, adorei a postura e o olhar do actor Miguel Borges para com os pacientes com quem interagiu e partilhou espaços. Uma maneira de estar muito serena, de estar perante a loucura e tentar compreendê-la, senti-la e aceitá-la. Muitíssimo interessante.
E, para além da representação efectiva, adorei a postura e o olhar do actor Miguel Borges para com os pacientes com quem interagiu e partilhou espaços. Uma maneira de estar muito serena, de estar perante a loucura e tentar compreendê-la, senti-la e aceitá-la. Muitíssimo interessante.
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