de Gonçalo Amaral. 2008.
Recentes notícias - I: Uma adolescente inglesa com supostas semelhanças físicas com Maddie - pele branca, cabelo loiro e olhos claros - foi vista a deambular pelas ruas de Roma, em Itália. Mais tarde confirmou-se o falso alarme, tratando-se de outra pessoa; II: A Scotland Yard recebeu recentemente um financiamento extra para continuar com as investigações do caso Maddie - fizeram-me voltar a pensar no assunto. Toda ou quase toda a gente se lembra deste caso e terá uma opinião (ou bitaite...) sobre ele.
Lembrei-me que nunca tinha lido o livro escrito pelo - entretanto afastado - coordenador operacional de investigação do caso - na altura Gonçalo Amaral. Não gosto de opinar sem conhecimento de causa e por isso decidi ler e inteirar-me sobre a sua versão dos factos. Tendo sempre presente que, tratando-se de um caso complexo como é este, há tantas outras versões igualmente legítimas ou supostamente credíveis...
Madeleine Beth Mccann, 3 de Maio de 2007, Aldeia da Luz, Lagos. Uma menina estrangeira de 4 anos desaparecida em território português, não se tendo, até à data, obtido quaisquer conclusões claras e específicas de um caso que, por essa razão, permanece um mistério.
Um caso que, como esteve sempre e desde o início sob o olhar permanente da comunicação social e consequente escrutínio público, trouxe à tona a forma como uma investigação criminal é levada a cabo pela Polícia Judiciária portuguesa e os meios de que dispõe, por outro lado a forma como actua a polícia inglesa sob orientação do governo britânico, as relações diplomáticas entre dois países que partilham entre si História (períodos de tensão e períodos de amizade) em comum, fazendo os dois parte (na altura!) da União Europeia, as relações comerciais actuais, o impacto sobre umas das nossas mais importantes áreas económicas - o Turismo- e acima de tudo o quão difícil continua a ser saber a verdade sobre o que realmente aconteceu e onde, e como, está a menina.
A verdade.
Coisa tão simples, permanente e íntegra, e no entanto, tão difícil de encontrar como deveria ser de esconder.
Este livro constitui a argumentação de Gonçalo Amaral. Fiquei com a percepção de que algumas coisas correram menos bem na investigação. Não apenas pelos meios de que se dispunham na altura (em termos equipas técnicas, equipamento tecnológico, burocracias do processo, cumprimento da lei e devidas limitações de acção, entre outros), mas porque o mediatismo e a pressão em redor do caso, o melindre para não ferir as relações entre os dois países, de certa forma atrapalharam o inquérito e instrução do processo e perturbaram o raciocínio (que se pretende nestas situações ser frio, rápido, imparcial e claro) dos investigadores. No livro, a tese que tem mais força é a de que a menina morreu no apartamento 5A do Ocean Club e houve ocultação de cadáver. Os pais foram constituídos arguidos. Mas não se conseguiu dar como provado e a verdade é que não se encontrou o corpo.
Uma coisa é certa. Existia uma menina que desapareceu e que até hoje não foi encontrada, nem morta nem viva.
Nunca compreendi muito bem todo o mediatismo que este caso teve, e continua a ter. Não que não concorde com ele. Acho que tudo o que sirva para tentar encontrar esta e outras pessoas desaparecidas nunca é em vão e tem todo o sentido. Mas não consigo encadear por A + B a forma rápida e exponencial como este caso em concreto sensibilizou milhões de pessoas, canalizou milhares de euros na procura da Maddie, e teve intervenção directa de altas patentes dos estados português e britânico. Foi pela imagem da Maddie, o seu ar angelical, belo e puro? Mas não o são assim todas as crianças? Foi porque se tratava de uma menina que desapareceu em território estrangeiro? Foi... porquê?!
Qual é, afinal, a seriedade disto tudo e onde está a verdade? Onde está Maddie... afinal?
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