de Mia Couto. 2015.
Nunca tinha lido nada de Mia Couto. Sabia que era um poeta e escritor moçambicano, branco, biólogo, e que já tinha ganho alguns prémios. Mais nada. Fiquei a achá-lo profundamente poético.
Comecei a ler as "Areias do Imperador" por curiosidade acerca de Ngungunyane, o último imperador do império de Gaza (dos nguni ou vátuas), o segundo maior império africano, num território que hoje corresponde a metade do sul de Moçambique, e que foi capturado por Mouzinho de Albuquerque em representação da Coroa Portuguesa imperial, em 1895. O Leão de Gaza, como era conhecido Ngungunyane, foi condenado ao exílio e passou os últimos anos da sua vida nos Açores.
O título "As Areias do Imperador" relaciona-se com o facto de se dizer que, quando Nungunyane morreu não foram os seus ossos que seguiram transladados para Moçambique mas sim apenas uma urna cheia de areia.
Este primeiro volume acerca da história de Ngungunyane e dos portugueses fala de como era a vida numa pequena aldeia autóctone do território que na altura já estava a ser colonizado e explorado pelos portugueses. Fala do medo e da ameaça da expansão dos nguni, que se dizia terem um exército de milhares de homens, destemidos, cruéis e guerreiros audazes. Que espalhavam o massacre e o terror. Fala também da religião cristã e como esta era vivida e sentida no território.
Creio que este Livro Um é isso mesmo, uma primeira abordagem introdutória de como era o ambiente sentido pelos nativos, pelos enviados pela Coroa Portuguesa, e a forma como estes lidavam entre si e simultaneamente com a invasão nguni. Muito focado na terra, e nas cinzas, e na forma como as mulheres sentem e relatam o que vai acontecendo.
O livro consta de dois monólogos que no fundo representam duas visões do mundo, que constroem a história e acabam por ligar-se. Imani, uma jovem africana que retrata os costumes e crenças nativas, de uma forma pura e poética, e do sargento Germano de Melo, um português republicano enviado para o terreno na sequência de uma condenação em tribunal, um homem perturbado pela solidão e pela sua pouca sorte e que se questiona a todo momento da missão para que foi designado.
Entrevista Mia Couto ao Jornal Público sobre a triologia As Areias do Imperador - As Mulheres de Cinza.
Entrevista Mia Couto ao Jornal Público sobre a triologia As Areias do Imperador - As Mulheres de Cinza.
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