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Surrealidades do meu dia-a-dia #44

O edifício onde vivo está a ser pintado. O objectivo é contratar um pintor, pagar-lhe, e daí a um certo tempo ter as paredes todas pintadinhas e bonitas. Ponto. Sem trabalhos ou despesas acrescidas. Não é pedir muito pois não?! E de facto, o edifício está a ficar lindo mas desde, e à conta de, que as pinturas começaram, só me têm acontecido peripécias:

1 - Os senhores pintores precisaram lavar as paredes antes de rebocar e pintar. Muito bem. Utilizaram a canalização da minha cozinha. Tentaram na saída de água para a máquina de lavar loiça... parece que não estava com muita pressão... e entretanto fecharam-na de tal maneira que a máquina deixou de funcionar e não davam a torneira aberta outra vez... portanto passaram para uma segunda torneira, também na cozinha. Esta já serviu para o efeito. Mas houve ali uns percalços e... a cozinha inundou! Sim, inundou! Tiveram de desmontar os móveis para não incharem e apodrecerem com a água e tirar tudo de dentro dos armários junto ao chão... Sim... uma bela tarde cheguei a casa, pensando no quão bonito o edifício estaria a ficar e tive uma experiência apocalíptica quando chego a casa. Fiquei um bocadinho... só um bocadinho... chateada...;

2 - Os senhores pintores tiveram de desmontar um estendal que tenho de parede. Depois de pintar a parede, voltaram a colocá-lo no sítio. Sim, foi mesmo só colocar... não foi montar. Porque aqui a lavadeira foi estender a roupa lavada e cheirosa e eis que ela caiu direitinha no chão, que estava cheio de massa de reboco. Maravilha! Em seguida, fiz um exercício de respiração... longo, muito longo. Peguei no estendal. Montei o estendal. Voltei a lavar a roupa e lá a estendi. Agora bem. Entretanto reparo que o corrimão de uma das varandas já tinha sido pintado. Está muito bonito... e para mais tarde recordar tem também as impressões digitais e manuais e braçais de um deles ou de vários (os pintores), que andaram lá a mexer quando a tinta ainda não estava seca. Mantive a calma. Mas já a sentir a pressão na panela....;

3 -  Certo dia de manhã chego ao carro. Parecia que tinha nevado e todo, mas todo mesmo, (capot, tejadilho, vidros, laterais, espelhos... até a traseira!) o carro estava sarapintado de branco. Gelei. Logo logo nem queria acreditar. Passei os dedos pelas pingas de tinta e não saiam. Experimentei com a unha. Saiam mal.... Fui portanto em modo emergência até à lavagem mais próxima, antes que a tinta secasse mais, e após uma boa quantidade de € e paciência a lavar e a insistir nalgumas zonas em que a tinta parecia já fazer parte da pintura do carro... lá consegui tirar. Não tudo. E o brilho das pingas ainda se nota noutras partes... Nesta fase passei de chateada, piurça... a rir-me com a situação. Mas um rir triste. Porque... o que é que podia acontecer mais?!?;

4 - Já um bocadinho temerosa... enquanto estas pinturas durarem parece-me que a cada dia vou ter uma (desagradável) surpresa... lá vou levando um dia de cada vez, e a rezar para que esta m... acabe rápido! Eis senão quando... tan tan tan... fui abrir uma persiana de uma das janelas e... parti a dita cuja. Porquê? Porque do lado de fora (que eu não via porque a persiana estava fechada!!!) os senhores pintores resolveram encostar um vaso enorme e pesadíssimo que tenho com um cacto aloe vera mesmo junto à persiana, de tal forma que quando a tentei subir... o vaso veio atrás e como era muito pesado... desencaixei e parti o tubo da persiana!!! Ficou inutilizável. Nem para cima nem para baixo! Respirei fundo e sim... senti raiva e frustração.
Lá arranjei um senhor que arranja (passo o pleonasmo!) persianas. Olhou para a situação e soprou, soprou... disse logo que o caso era muito complicado. Ainda por cima não se consegue aceder directamente ao tubo porque a construção da janela não o permite (e por essa razão ainda levei uma valente "chazada" do senhor... como se eu tivesse algum tipo de responsabilidade da janela ter sido construída assim). Mas depois de tanto soprar lá arranjou forma de remendar (não de emendar!) a situação. A persiana já voltou a subir e a descer. Mas de forma provisória!! Ou seja, pode deixar de conseguir utilizar-se ainda hoje, amanhã ou daqui a um qualquer tempo indefinido! 
O meu estado de espírito actual? Zen. A aguardar a próxima!

Aconteceram mais uns quantos dissabores que nem vale a pena estar aqui a descrever...

Pronto. Quero acreditar que isto no fundo só pode ter sido uma forma concreta de eu perceber a evolução entre estados de espírito aparentemente distintos. Serviu para demonstrar que a serenidade e boa-disposição por vezes provêm de uma atitude consciente e resiliente de aceitação e de saber relativizar as situações desagradáveis ou adversas que inicialmente nos induzem em estados de raiva, frustração, irritação, tristeza, cansaço e desespero. Portanto... obrigada senhores pintores por este maravilhoso ensinamento.... (embora eu preferisse não ter de passar por tanto estados menos zen...hummmmm)
Ah! E o edifício está a ficar lindíssimo! :)

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